A chamada Guerra contra o Terror não é uma guerra nem o inimigo é o terrorismo, observou o professor Edward Luttwak, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS) de Washington, ao participar na semana passada do 6º Encontro Nacional de Estudos Estratégicos, na Escola de Guerra de Naval, no Rio.
“É uma expressão demogógica”, exclamou Luttwak. “Só se for no sentido da guerra contra o câncer, da guerra contra as drogas. É uma campanha policial e de inteligência. E não é contra o terrorismo, porque o terrorismo é uma tática. É contra os fundamentalistas muçulmanos, os jihadistas. Só que os EUA não querem dizer isso.”
Na sua avaliação, os Estados Unidos estão ganhando a luta contra contra os jihadistas: “Não houve mais atentados em território americano e nenhum governo, com exceção do Irã, está mais financiando o terrorismo. A Arábia Saudita subsidiava os talebã no Afeganistão. Quando eles destruíram duas estátuas de Buda, ganharam US$ 20 milhões. Os Emirados Árabes Unidos financiavam Al Caeda. A Indonésia é muito ativa. É o maior país muçulmano do mundo; 80% dos agentes antiterroristas são cristãos.”
Mas é claro que nestes países há camadas da burocracia e gente rica que financia grupos terroristas.
Apesar do fracasso da invasão do Iraque, a Doutrina Bush, de guerras preventivas, será mantida, na opinião do professor Luttwak: “A prevenção continuará sendo política dos EUA. As guerras de Bush foram fruto de uma ambição imperial desmedida. Estes programas de transformação política serão abandonados. Mas nenhum país vai abandonar a prevenção. Havendo indícios de que está sendo preparado um ataque, os EUA vão querer atacar primeiro”.
O pesquisador do CSIS admitiu que há uma erosão dos direitos civis, uma espécie de neomarcarthismo (referência à caça aos comunistas promovida pelo senador Joe McCarthy nos anos 50), escuta telefônica: “É a nova realidade pós-11 de setembro de 2001. O Poder Executo queria mais controle. Propôs a Lei Patriótica. Todo o mundo estava com medo. Mas os juízes começaram a repudiar estas medidas. Se houver novos ataques, a população concordará com novas restrições aos direitos. Quando a situação volta a parecer normal, começa o movimento para recuperar os direitos.
SOMÁLIA
Um país dominado hoje por uma milícia jihadista é a Somália, na região do Chifre da África, que vive em estado de anarquia desde a queda do ditador Mohamed Siad Barre, em 1991. Mas Luttwak não acredita que vire uma refúgio para terroristas.
“Não é um lugar muito agradável”, falou o professor . “Houve tentativas da ONU e dos EUA de estabilizar o país. A União dos Tribunais Islâmicos é muito repressiva. Cortam a orelha de quem ouve iPods. Não acredito que se torne uma base da Al Caeda. Al Caeda não existe mais como organização. É uma rede de células dispersas”.
“Com o colapso do Estado na Somália, barcos somalianos atacam navios no Mar Vermelho”, conta Luttwak. “Onde os colonialistas quando a gente precisa deles?”, brincou. “Só precisa ficar lá durante uns 150 anos”.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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