Um ex-agente secreto da Rússia crítico do presidente Vladimir Putin morreu hoje à noite num hospital de Londres três semanas depois de ser envenenado. O crime teve todas as características dos assassinatos de espiões durante a Guerra Fria, a confrontação entre Estados Unidos e União Soviética que marcou a segunda metade do século 20.
Nesta quinta-feira, a situação de Alexander Litvinenko deteriorou-se, sem que os médicos do University College Hospital conseguissem descobrir a causa de sua doença.
Ele acreditava ter sido envenenado num encontro num restaurante japonês com uma pessoa que alegava ter informações ligando o governo Putin ao assassinato da jornalista Anna Politkovskaya, no mês passado. Anna era uma das maiores críticas das violações de direitos humanos cometidos pelos russos na república rebelde da Chechênia, que luta pela independência desde 1991.
Seus sintomas - desidratação, problemas cardíacos e queda de cabelo - levaram os médicos a suspeitar de que o veneno foi o metal pesado tálio. Mas esta hipótese não foi confirmada pelos exames nem a de qualquer material radioativo. Um dos médicos, Amit Nathwani, admite que a causa da morte talvez nunca seja conhecida.
Litvinenko, de 43 anos, virou inimigo do governo russo desde que acusou o Kremlin de ser responsável por uma série de atentados contra edifícios residenciais que mataram centenas de pessoas em Moscou em 1999. Eles foram atribuídos a terroristas chechenos. Serviram de pretexto para desencadear a segunda Guerra da Chechênia, decisiva para a eleição de Putin como sucessor de Boris Yeltsin, em março de 2000. Yeltsin renunciou em 31 de dezembro de 1999, Putin assumiu o poder e foi confirmado nas urnas meses depois.
Putin era diretor do Escritório de Segurança Federal (FSB, do inglês) da Rússia, que sucedeu ao KGB (Comitê de Defesa do Estado), a temida polícia política da extinta União Soviética. Este assassinato teve todas as características dos crimes do KGB. O governo russo negou qualquer participação.
Para o porta-voz do KGB, a solução do crime deve ser procurada entre as conexões de Litvinenko com o submundo de Londres. O ex-espião assassinado deixou a Rússia em 2000 alegando estar sendo ameaçado de morte. Era associado ao megaempresário Boris Berezovsky, um dos chamados 'barões ladrões' que ficaram bilionários com as privatizações depois da queda do comunismo.
Berezovski também caiu em desgraça, assim como Mikhail Khodorkovsky, que era o homem mais rico da Rússia, dono da empresa de petróleo Yukos, e hoje está na cadeia, condenado a nove anos de prisão por fraude e evasão fiscal. Ambos financiaram campanhas de candidatos de oposição.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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Um comentário:
Gostei do artigo, está desenvolvido e factual. Contudo, penso que não interessava ao governo russo, sobretudo nesta altura, assassinar Litvinenko
A minha opinião está aqui
PS: Peço desculpa pela publicidade
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