Diante da traição do presidente Donald Trump, que os deixou à mercê do Exército da Turquia, as Forças Democráticas Sírias, uma milícia árabe-curda aliada dos Estados Unidos na guerra contra o Estado Islâmico, anunciaram hoje terem feito um acordo com o ditador da Síria, Bachar Assad, aliado da Rússia e do Irã, inimigos dos EUA, noticiou o jornal The Washington Post.
Os objetivos da invasão turca no Nordeste da Síria são evitar que os curdos sírios se unam aos do Iraque para proclamar a independência do Curdistão, que poderia reivindicar a soberania sobre o Sudeste da Turquia, criar uma "zona de segurança" de 500 por 32 quilômetros para assentar 3,666 milhões de refugiados sírios que estão na Turquia e acabar com o predomínio curdo na região.
Em Washington, o secretário da Defesa, Mark Esper, negou que os EUA tenham abandonado seus aliados, mas o presidente Donald Trump ordenou ontem à noite a retirada total de mil soldados americanos que patrulhavam a fronteira.
"Temos forças americanas que podem ficar entre dois exércitos que avançam. É uma situação insustentável", justificou o chefe do Pentágono. "Então, falei com o presidente ontem à noite, depois de discutir com o resto da equipe de segurança nacional, e o orientamos a começar uma retirada deliberada das forças do Norte da Síria."
É mais uma covardia de Trump. Ontem, a artilharia turca fez disparos contra uma base de forças de operações especiais dos EUA na cidade de Kobane. A Turquia negou que o alvo fosse o quartel dos americanos, mas oficiais dos EUA consideraram que foram "tiros de advertência" que caíram dos dois lados da base.
As forças do regime sírio e da Rússia estão em Kamichlié, considerada a capital da região curda na Síria, que fica no extreme leste da fronteira norte, a oeste do Rio Eufrates.
Desde a intervenção militar da Rússia na guerra civil da Síria em apoio a Assad, a partir de 30 de setembro de 2015, os EUA estão em contato com os russos para evitar qualquer incidente entre suas forças aéreas, mas o secretário Esper declarou que "não mantivemos contato de nenhuma forma para convidá-los nem para compartilhar com eles nossas visões sobre o Oriente Próximo."
Em Istambul, irritado com as críticas do Ocidente à invasão, o ditador turco, Recep Tayyip Erdogan, atacou a Alemanha: "Ontem, no Parlamento alemão, o ministro do Exterior fez um discurso prometendo parar de vender armas à Turquia. Acabo de falar com a chanceler [primeira-ministra] Angela Merkel. Somos aliados na OTAN ou não? Ou a organização terrorista agora é sócia da OTAN?"
A regra básica da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a aliança militar liderada pelos EUA, é que um ataque contra um é considerado um ataque contra todos. Erdogan acusa as milícias curdas da Síria, as Unidades de Proteção do Povo (YPG) de aliança com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que há 35 anos trava uma guerra de guerrilhas contra a Turquia.
Apesar dos protestos internacionais, Erdogan indicou que não pretende suspender a ofensiva antes de criar uma "zona de segurança" de 32 quilômetros de profundidade junto à fronteira. "Não vamos deixar um Estado terrorista se estabelecer no Nordeste da Síria."
Ao sair de seu campo de golfe no estado da Virgínia, Trump considerou "muito inteligente não estar envolvido no intenso combate ao longo da fronteira turca" e acusou "aqueles que erradamente nos levaram para guerras no Oriente Médio" de pressionar os EUA a continuarem no que chama de "guerras sem fim" na região.
Durante entrevista à televisão americana neste domingo, o ex-secretário da Defesa James Mattis, que pediu demissão em janeiro em protesto contra a intenção de Trump de abandonar os aliados curdos: "Podemos querer o fim da guerra. Podemos até mesmo declarar o fim da guerra. Podemos retirar nossas tropas, como o presidente Barack Obama aprendeu da maneira mais difícil no Iraque, mas, como dizemos entre os militares, 'o inimigo ganha os votos'. Neste caso, se não mantivermos a pressão, o Estado Islâmico vai ressurgir. É totalmente certo que vai voltar."
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
domingo, 13 de outubro de 2019
Curdos fazem acordo e pedem proteção ao ditador da Síria
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