Dois cientistas dos Estados Unidos, William Kaelin, da Universidade de Harvard, e Gregg Semenza, da Universidade Johns Hopkins, e um do Reino Unido, Peter Ratcliffe, da Universidade de Oxford, foram agraciados com o Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia de 2019 "por suas descobertas sobre como as células percebem e se adaptam à disponibilidade de oxigênio", anunciou ontem o Comitê do Nobel, no Instituto Karolinska, em Estocolmo, na Suécia.
Suas pesquisas revelaram os mecanismos genéticos que permitem às células reagir a alterações nos níveis de oxigênio. As descobertas contribuíram para o tratamento de várias doenças, entre elas o câncer, anemia, ataques cardíacos e acidentes vasculares cerebrais, noticiou o jornal The New York Times.
O oxigênio é vital para todos os organismos vivos. Sem oxigênio, as células não sobrevivem. Oxigênio demais ou de menos pode matar. A questão para estes cientistas era como as células respondem às variações do fornecimento deste elemento essencial à vida.
"Como todo cientista, gosto de resolver quebra-cabeças", declarou hoje o professor William Kaelin, da Faculdade de Medicina de Harvard. Ele estudou um raro câncer genético, a Doença de Von Hippel-Lindau, caracterizado por uma profusão da vasos sanguíneos a mais e a superprodução da eritropoetina, um hormônio que estimula a produção de glóbulos vermelhos, as células do sangue que transportam o oxigênio.
Ao aumentar a produção de eritropoetina, o câncer leva ao excesso de produção de células vermelhas. "Pensei que ter algo a ver com a percepção do oxigênio", lembrou Kaelin.
"É uma das grandes histórias da ciência biomédica", observou o diretor da Faculdade de Medicina de Harvard, George Daley. "Bill é um exemplo do médico-cientista. Pegou um problema clínico e descobriu-o através de um incrível rigor científico."
Gregg Semenza agradeceu à sua professora de biologia no ensino médio, Rose Nelson. "Ela era inacreditável. Transmitia a maravilha e a alegria da ciência e da descoberta científica. Ela me botou no caminho da ciência."
Na Universidade de Harvard, Semenza fazia doutorado em genética quando uma amiga teve um filho com Síndrome de Down. "Isto mudou meu interesse em genética como disciplina científica para pensar sobre o impacto da genética sobre as pessoas."
A pesquisa de Semenza procurava entender o que as células cancerígenas estão procurando quando se propagam pelos tecidos próximos e pelos vasos sanguíneos que as transportam pelo corpo. Supôs que estavam atrás de oxigênio.
Isso atraiu a atenção para o gene que controla a produção de eritropoetina. Quando ativado, aumenta a produção de glóbulos vermelhos. A dúvida era como reagiria diante da falta de oxigênio.
Como geneticista, Semenza estudava doenças raras. A pesquisa sobre a resposta das células à oxigenação o levou a estudar doenças mais comuns como câncer e doenças do coração.
O outro ganhador do Nobel de Medicina deste ano, Peter Ratcliffe, é diretor de pesquisas clínicas do Instituto Francis Crick, em Londres, e de um instituto em Oxford. Virou pesquisador médico por acaso.
"Eu era um estudante de química razoável e pretendia fazer carreira em química industrial. Um diretor de escola formidável apareceu numa manhã na aula de química e disse: 'Peter, penso que você deve estudar medicina.' Sem pensar mais, mudei meus pedidos de ingresso na universidade."
Especialista em rins, ficou intrigado pela maneira como os órgãos regulam a produção de eritropoetina em reação à quantidade de oxigênio disponível. "Acreditava que era tratável e que poderia ser resolvido."
Ao receber a notícia, atribui-o ao valor da pesquisa básica: "Produzimos conhecimento. É o que faço como cientista financiado com dinheiro público. É um bom conhecimento. É verdade. É correto."
Os três cientistas vão dividir o prêmio de 9 milhões de coroas suecas, cerca de R$ 3,7 milhões.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário