domingo, 13 de outubro de 2019

Professor de direito constitucional vence eleição presidencial na Tunísia

Com mais de 70% dos votos, o professor universitário Kaïs Saïed, um conservador religioso moderado, foi eleito hoje presidente da Tunísia. Venceu no segundo turno o empresário Nabil Karoui, acusado de corrupção, que saiu da cadeia na última quarta-feira, noticiou o jornal francês Le Monde.

A Tunísia é o único país onde a chamada Primavera Árabe democratizou o país, mas todos os partidos políticos tradicionais, laicos ou muçulmanos, foram eliminados no primeiro turno. Duas pesquisas de boca de urna dão 72,5% e 76,9% dos votos ao vencedor.

Para surpresa geral, de um total de 26 candidatos, dois críticos do sistema passaram para o segundo turno, refletindo o descontentamento do eleitorado com a corrupção e a estagnação econômica, razões da revolta que resultou na queda do ditador Zine al-Abidine ben Ali, recentemente falecido.

Ben Ali estava no poder desde 1987. Foi o primeiro ditador a cair na Primavera Árabe, em 14 de janeiro de 2011.

A morte, em julho, do primeiro presidente da Tunísia eleito democraticamente pelo voto direto, secreto e universal, Béji Caïd Essebi, antecipou a eleição. Na sexta-feira à noite, nas últimas horas da campanha, os dois candidatos se enfrentam num debate na televisão sem precedentes na história do país.

Apenas 48 horas depois de sair da prisão, Karoui, mais pragmático, estava hesitante e impreciso. Magnata da mídia e da propaganda, chamado de Berlusconi tunisiano, prometeu ao mesmo tempo liberalismo econômico e combate à pobreza.

Saïed foi duro e intransigente. Prometeu mudar o sistema para dar "o poder ao povo" dentro do primado do direito. "Depois deste debate, até Karoui vai votar em Saïed", ironizaram internautas.

O professor conquistou 18,4% dos votos no primeiro turno. Vários partidos pediram voto nele, inclusive o islamista Nahda, o mais votado nas eleições parlamentares deste mês, elegendo 52 dos 217 deputados da Assembleia Nacional. Conservador e religioso, Saïed defende a descentralização administrativa e uma política externa independente e soberanista.

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