Ondas de manifestantes enfrentaram a polícia hoje nas ruas de Quito, no sétimo dia de protestos contra o fim do subsídio aos combustíveis, que subiram 120% em função de um acordo para obter um empréstimo de US$ 4 bilhões.
Os protestos são liderados pelo movimento indígena, que derrubou três presidentes do Equador desde 1997 e agora exige a renúncia do presidente Lenín Moreno. Em uma semana, pelo menos cinco pessoas foram mortas e quase 800 foram presas.
A Confederação das Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie), que se nega a negociar com o governo, liderou a marcha até o centro da capital, paralisada por uma greve geral. Foram seguidos por trabalhadores e estudantes. Estes jogaram pedras na polícia, que reagiu com bombas de gás lacrimogênio.
"Queremos que as medidas sejam revogadas para dar tranquilidade ao povo", declarou o líder indígena César García, de 52 anos, enquanto uma representante da comunidade de Zumbahua, na província de Cotopaxi, Diana Guanatuña, exigia que "o governo se vá porque teve tempo suficiente para mostrar o que pode fazer pelo povo e não fez nada."
A situação econômica do país se agravou nos últimos anos com a queda nos preços do petróleo. O presidente Moreno anunciou a intenção de deixar a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) para escapar dos limites de produção impostos pelos grandes produtores.
Moreno era vice-presidente de Rafael Correa, um presidente de esquerda carismático e popular que seguia a linha do chavismo. No governo, adotou uma postura mais favorável ao mercado e aos empresários. Acusado de corrupção num escândalo envolvendo a construtora brasileira Odebrecht, Correa fugiu para a Bélgica, país de sua mulher.
Na semana passada, Correa esteve em Caracas, onde se reuniu com o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro. Moreno, que na segunda-feira transferiu o governo para Guaiaquil, a maior cidade e capital econômica do Equador, responsabiliza os dois pela explosão de violência no Equador. Hoje, voltou a Quito.
Os índios são 4,5 milhões, cerca de 25% da população equatoriana, de 17,7 milhões de habitantes, dos quais 37% vivem na miséria. Entre os indígenas, a pobreza chega a 73%. Eles tiveram participação decisiva em todos os movimentos de protesto. Provocaram a queda dos presidente Abdalá Bucaram, em 1997; Jamil Mahuad, em 2000; e Lucio Gutiérrez, em 2005.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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