Com 98% das urnas apuradas, a chapa peronista da Frente para Todos, formada pelo ex-ministro Alberto Fernández e a ex-presidente Cristina Kirchner, ganhou a eleição presidencial deste domingo na Argentina com 48,1% contra 40,38% para o atual presidente, Mauricio Macri e a coalizão Juntos pela Mudança, noticiaram os jornais argentinos Clarín e La Nación.
A margem da vitória ficou bem abaixo dos 49,5% a 33% registrados em 11 de agosto nas eleições primárias abertas, simultâneas a obrigatórias (PASO), que davam poucas esperanças de reeleição de Macri. Pela singular lei eleitoral argentina, ganha no primeiro turno quem obtiver mais de 45% dos votos ou mais de 40% e uma vantagem de dez pontos percentuais sobre o segundo colocado.
Axel Kicillof, ex-ministro da Economia de Cristina Kirchner, venceu a eleição para governador da província de Buenos Aires com 52,07% dos votos contra 38,63% para a governadora María Eugenia Vidal, uma das estrelas do macrismo.
A grande vitória do macrismo foi para a Prefeitura de Buenos Aires, onde Horacio Rodríguez Larreta obteve uma ampla vitória de 55% a 35,46% sobre o peronista Matías Lammens. Sua grande derrota foi na Grande Buenos Aires, na região metropolitana da capital argentina, onde Fernández tirou quase toda sua vantagem.
Com o fracasso de suas propostas políticas liberais, Macri entrega a Argentina em situação pior do que recebeu, com inflação de 60% ao ano, queda no produto interno bruto de 3,8% em 12 meses, desvalorização do peso em 50% neste ano, uma dívida de US$ 57 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e 35,4% dos argentinos vivendo na miséria, 15 milhões a mais do que no ano passado.
A expectativa agora se volta para a reação do mercado. Há uma possibilidade de que amanhã seja feriado bancário para evitar a especulação financeiras em cima dos resultados. Fernández tem fama de ser mais pragmático do que Cristina.
Uma das questões é se Fernández vai conseguir se descolar da liderança da Cristina, se vai usar a cadeira presidencial na Casa Rosada para assumir o controle do peronista.
A história política do país registra várias traições do gênero, inclusive de Néstor Kirchner a Eduardo Duhalde, o presidente interino que bancou a candidatura do marido da Cristina pela ala esquerdista do peronismo, em 2003.
Outra é o que o governo Fernández vai propor para renegociar a dívida sem trair sua promessa de campanha de não infligir mais sacrifícios ao povo argentino nem alienar seu eleitores.
Nos discurso da vitória, Cristina saudou a reeleição de Evo Morales na Bolívia e Fernández pediu "Lula livre", descrevendo-o como um preso político.
Amanhã, Fernández toma o café da manhã com Macri para discutir a transição, especialmente como evitar o agravamento da crise econômica. Cristina não ajudou muito. Há pouco a vice-presidente eleita declarou que os presidentes governam do primeiro ao último dia. Tenta assim se eximir de responsabilidade por uma provável reação negativa do mercado com a volta do kirchnerismo ao poder. Na prática, sabota a transição.
Para evitar a especulação, o Banco Central da República Argentina limitou temporariamente em US$ 200 por mês a quantidade de dólares que se pode comprar legalmente.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
domingo, 27 de outubro de 2019
Alberto Fernández é eleito presidente da Argentina no primeiro turno
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