terça-feira, 29 de outubro de 2019

Parlamento Britânico antecipa eleições para 12 de dezembro

Por 438 a 20, com quatro votos acima do mínimo necessário, a Câmara dos Comuns do Parlamento Britânico aprovou hoje a antecipação das eleições gerais para 12 de dezembro. O projeto segue agora para a Câmara dos Lordes, mas é mera formalidade.

A medida foi proposta pelo primeiro-ministro Boris Johnson para obter um mandato renovado para negociar a saída da União Europeia nos seus termos. Mas há o risco de que uma vitória dos adversários da saída acabe com a Brexit.

Cerca de 200 deputados se abstiveram, a maioria do Partido Trabalhista, por temer uma derrota fragorosa e preferir realizar uma segunda consulta popular, um referendo para aprovar o acordo de saída da UE negociado por Johnson, antes das próximas eleições gerais.

Serão as primeiras eleições em dezembro desde 1923. É o mês da entrada do inverno no Hemisfério Norte. Faz frio, chove, anoitece às 16 horas e os estudantes iniciam as férias de Natal no fim de semana anterior. O risco de abstenção elevada aumenta e os conservadores se beneficiam disso.

Enquanto o Partido Conservador virou um partido radical de direita nacionalista com foco na Brexit, o Partido Trabalhista também está dividido pela questão europeia. Seu líder, Jeremy Corbyn, um radical de esquerda que promete estatizar serviços públicos privatizados, é o líder de oposição mais impopular da história recente do Reino Unido.

Johnson chegou ao poder ao ser eleito líder do Partido Conservador por seus 160 mil filiados, sem um mandato popular conquistado nas urnas em eleições gerais. Com ampla vantagem nas pesquisas de opinião, insiste em antecipar as eleições para tentar quebrar o impasse em torno da saída da UE.

Depois de expulsar 21 deputados conservadores que votaram contra a orientação do governo sobre a saída da UE, Johnson trouxe 10 rebeldes de volta para aprovar as eleições. Como o país está radicalmente dividido e fraturado pelas relações com a Europa, serão as eleições da Brexit.

Na média, as últimas pesquisas dão 36% aos conservadores, 25% aos trabalhistas, 18% aos liberais-democratas e 11% ao Partido da Brexit.

A grande preocupação do Partido Conservador é com o Partido da Brexit, o antigo Partido da Independência do Reino Unido (UKIP), liderado pelo neofascista Nigel Farage, que foi o mais votado nas eleições para o Parlamento Europeu em maio deste ano, com 34% dos votos.

O Partido Liberal-Democrata, o terceiro maior do país, tem hoje apenas 19 deputados por causa do sistema eleitoral britânico, de voto distrital em turno único. Ganha o mais votado, sem necessidade de maioria, o que forçaria a realização de um segundo turno, como acontece na França. Também abre a possibilidade de ter ampla maioria no Parlamento sem ter a maioria absoluta no voto popular.

Na prática, isto cria quase um bipartidarismo em que conservadores e trabalhistas se revezam no poder e os partidos menores são marginalizados. Os liberais-democratas participaram do primeiro governo David Cameron, o primeiro e único governo de coalizão no Reino Unido depois da Segunda Guerra Mundial. O desgaste no poder de um governo dominado por outros pesou para reduzir sua bancada.

Hoje, o Partido Liberal-Democrata é o partido da permanência do Reino Unido na UE. Esta bandeira lhe valeu o segundo lugar nas eleições europeias, à frente de trabalhistas, verdes e conservadores. Ficar na Europa será o tema central de sua campanha.

Em 1997, quando o governo Tony Blair foi eleito, os trabalhistas fizeram uma aliança informal com os sociais-democratas para concentrar os votos no candidato com melhores chances dos dois partidos em cada distrito eleitoral do país. Foi a maneira de derrotar os conservadores depois de 18 anos de thatcherismo.

Agora, sob a liderança radical de Corbyn, inimigo jurado do neotrabalhismo de Blair, dificilmente haverá um acordo deste natureza, a não ser que o Partido Trabalhista abrace a defesa da permanência na UE. Depois de tanta hesitação de Corbyn, é improvável.

Com o caos em torno da UE, o Partido Nacional Escocês tenta ampliar seu domínio sobre a política da Escócia para preparar um novo plebiscito sobre a independência. Se o Reino Unido sair mesmo da UE, a Escócia deve declarar a independência e se reintegrar à Europa.

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