Em seu discurso de posse hoje como chefe de governo no Parlamento da Grécia, o primeiro-ministro Alexis Tsipras, da Coligação de Esquerda Radical (Syriza) reafirmou que o país quer pagar sua dívida pública, mas não nas condições negociadas pelos governos anteriores com a União Europeia (UE), o Banco Central Europeu (BCE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), a chamada troika.
Ao eleitorado mais pobre, duramente atingido pela depressão econômica que encolheu a economia grega em 25% nos últimos seis anos, deixando um quarto da população ativa e a metade dos jovens sem emprego, Tsipras prometeu casa, comida, energia e saúde, noticia o jornal espanhol El País. Sua proposta é aumentar progressivamente o salário mínimo, reduzido, assim como as aposentadorias e pensões, pelos acordos com a troika.
Nos últimos seis anos, a dívida grega pulou de 120% para 175% do produto interno bruto, diminuído pela depressão. A maioria do dinheiro recebido nos empréstimos de emergência de 240 bilhões foi usada para pagar a dívida e não para investir na recuperação econômica do país.
Cerca de 72% dos gregos apoiam a postura afirmativa de Tsipras diante das sócios europeus, especialmente da Alemanha, que tem a chave do cofre, indica uma pesquisa divulgada no último sábado. Mas a Grécia precisa de dinheiro. Caso contrário, o governo vai frustrar seu eleitorado mais uma vez.
Diante da exigência do ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, de que a Grécia cumpra os acordos assumidos, seu colega grego, Yanis Varoufakis, declarou na sexta-feira passada em Frankfurt que seu país precisa de um empréstimo-ponte de três meses para apresentar, em maio de 2015, uma nova proposta de renegociação da dívida.
A Alemanha, por princípio, é contra a renegociação porque abriria um precedente para outros países em dificuldades para honrar suas dívidas e desestimularia as reformas que Berlim e Frankfurt consideram essenciais para a estabilidade financeira da Zona do Euro, inclusive em grandes economia como a França e a Itália.
Por outro lado, a saída da Grécia da união monetária também abriria um precedente perigoso, enfraquecendo a moeda única. Hoje o ex-presidente do banco central dos Estados Unidos Alan Greenspan, que já foi considerado um oráculo para o mercado, mas ficou um tanto desmoralizado pelo colapso do sistema financeiro americano em setembro de 2008, previu que a Grécia vai abandonar o euro.
O mais provável é um acordo provisório. A Grécia pode levar seu empréstimo-ponte, mas terá de reciclar suas ambições a médio prazo.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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