Uma testemunha importante na investigação sobre a morte do promotor Alberto Nisman, que denunciou a presidente Cristina Kirchner e assessores por acobertar o pior atentado terrorista da história da Argentina, está sob proteção policial.
Natalia Fernández é garçonete de um restaurante em Porto Madero, o bairro elegante onde morava o promotor Nisman. Quando saíam do trabalho, por volta da 1h na madrugada de segunda-feira, 19 de janeiro, ela e uma colega foram abordadas para que servissem de testemunhas da primeira operação pericial no apartamento, a cena do crime. Seriam apenas 15 minutos.
No 13º andar, ela ficou esperando na entrada do apartamento, onde disse haver visto o corpo do promotor envolto num saco plástico ser removido numa maca. Também contou ter ouvido um ruído forte como se fosse de um aspirador em pó e assistido à retirada de um volume "grande".
Lá dentro, Natalia viu que classificavam os documentos do procurador, mas eles estavam espalhados por uma mesa, cadeiras e pufes, com um aparente descaso pelas provas. Sem luvas, uma perita pegou o telefone celular do promotor e viu a lista de ligações não atendida.
Mais importante: a testemunha disse ainda que a promotora encarregada de investigar o assassinato, Viviana Fein teria encontrado cinco cápsulas de balas disparadas, contrariando a versão oficial de que Nisman foi morto com um único tiro.
Os 15 minutos se estenderam até quase nove da manhã, quando "tomaram mate e pediram medialunas". Nesse período, a deixaram ir ao banheiro e lhe ofereceram café feita na cafeteira de Nisman, sem maior cuidado em isolar a cena do crime. No fim, a fizeram assinar documentos que não leu.
Dias depois, dois homens de cerca de 40 anos estiveram no restaurante onde Natalia Fernández trabalha, na Av. Alicia Moreau de Justo, perguntando se ela era testemunha no Caso Nisman.
Outra pessoa lhe prometeu proteção em nome da organização de defesa dos direitos humanos Anistia Internacional, que negou ter feito isso. Também lhe ofereceram os serviços do advogado Fernando Burlando, que defende Fernando Esteche, do grupo de ultraesquerda Quebracho.
Esteche é um dos denunciados pelo promotor Nisman e agora por seu sucessor, Gerardo Pollicita, ao lado da presidente Cristina Kirchner; do ministro do Exterior, Héctor Timerman; do deputado Andrés Larroque, líder da ala jovem do kirchnerismo, La Cámpora; e do líder do movimento social dos piqueteiros, Luis D'Elia.
Eles são acusados de negociar um acordo com o Irã mediado pela Venezuela de Hugo Chávez para inocentar os iranianos denunciadas pelo atentado terrorista contra a Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA), que matou 85 pessoas e feriu outras 300 em 18 de julho de 1994, em Buenos Aires. Em troca, a Argentina receberia ajuda do Irã para enfrentar a crise econômica.
Nesta Quarta-Feira de Cinzas, haverá uma passeata de promotores e procuradores de Justiça na capital argentina para cobrar do governo proteção e o esclarecimento da morte de Alberto Nisman, a 86ª vítima do atentado contra a AMIA. O governo é acusado de, no mínimo, tumultuar a investigação. As filhas e a ex-mulher do promotor participam da manifestação.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015
Testemunha involuntária sofre ameaça no caso Nisman na Argentina
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