Dois dias antes de uma grande manifestação de protesto contra a guerra na Ucrânia convocada para Moscou, o ex-vice-primeiro-ministro Boris Nemtsov (1997-98), de 55 anos, um dos maiores adversários do presidente Vladimir Putin, foi assassinado a tiros hoje no centro da capital da Rússia.
Nas últimas semanas, Nemtsov revelou que temia ser morto por se opor à intervenção militar da Rússia na Ucrânia, que garante a popularidade do homem-forte do Kremlin apesar da grave crise econômica causada pelas sanções internacionais e a queda nos preços do petróleo.
Putin declarou que o assassinato foi "uma provocação" e prometeu controlar pessoalmente a investigação, a receita ideal para encobrir o caso. Seu governo e o próprio Putin são os maiores suspeitos.
O ex-vice-primeiro-ministro seria um dos principais oradores da manifestação de domingo contra Putin e a guerra na Ucrânia. Ele foi bastante ativo nas manifestações de 2011-12, durante as campanhas para as últimas eleições parlamentares e presidencial.
Nemtsov levou hoje quatro tiros de atiradores que saíram de um carro numa ponte ao sul da Praça Vermelha. Foi um assassinato profissional. Ninguém mais saiu ferido. Ele caminhava ao lado de uma jovem ucraniana de 24 anos, sem guarda-costas.
Primeiro governador da região de Níjni Novgorod depois do fim da União Soviética, em 1991, Nemtsov ascendeu politicamente nos anos 1990s até chegar a vice-primeiro-ministro. Foi líder de partidos e movimentos liberais democratas como o Partido Republicano da Rússia e o Solidarnost.
Era um dos principais líderes da oposição russa, ao lado do empresário Mikhail Khodorkovsky, preso quando era o homem mais rico do país e hoje exilado; Mikhail Kassianov, da União Democrática Popular; Garry Kasparov, ex-campeão mundial de xadrez, da coligação Outra Rússia; Vladimir Rijkov, do Partido Republicano da Rússia.
Impopular por causa do caos econômico dos governos Boris Yeltsin (1991-99), Nemtsov aderiu ao movimento anticorrupção liderado pelo blogueiro Alexei Navalny, hoje o mais popular dos líderes da oposição.
Navalny e seu movimento articulado nas redes sociais convocaram protestos em Moscou e outras 14 cidades em 1º de março de 2015. Serão as primeiras manifestações de oposição autorizadas pelo Kremlin desde 2012. O objetivo é mobilizar 100 mil pessoas só na capital para protestar contra a guerra na Ucrânia, a crise econômica, a corrupção governamental e a censura e a repressão crescentes.
A morte de Nemtsov visa sobretudo a aterrorizar a população e a esvaziar as manifestações. Pode ter o efeito contrário. Como Navalny, que está em liberdade condicional, foi intimado a se apresentar à Justiça em 1º de março, o ex-vice-primeiro-ministro seria o principal orador em Moscou.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015
Ex-vice-primeiro-ministro adversário de Putin é morto na Rússia
Marcadores:
Assassinato,
Boris Nemtsov,
ex-vice-primeiro-ministro,
Guerra,
manifestação,
Mikhail Khodorkovsky,
Moscou,
Níjni Novgorod,
Protesto,
Rússia,
Ucrânia,
Vladimir Putin
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário