Em retaliação pelo massacre de 21 cristãos egípcios do povo copta degolados numa praia da Líbia, divulgado ontem na Internet, a Força Aérea do Egito bombardeou hoje posições da milícia extremista Estado Islâmico na cidade de Darná, naquele país, noticiou o jornal francês Le Monde.
A operação visou acampamentos, centros de treinamento e arsenais do grupo perto da fronteira do Egito para "vingar o banho de sangue e punir os assassinos. Os egípcios precisam saber que têm um escudo para defendê-los", disseram porta-vozes militares.
Diante da notícia, o ditador Abdel Fattah al-Sissi decretou luto nacional por sete dias e convocou o Conselho de Segurança Nacional para dar uma resposta. É a primeira vez que o Egito reconhece publicamente um ataque na Líbia. No ano passado, o país e os Emirados Árabes Unidos foram acusados de atacar milícias jihadistas líbias, mas negaram tudo.
Depois de proclamar a fundação de um califado, em junho de 2014, nos territórios que ocupa na Síria e no Iraque, o Estado Islâmico do Iraque e do Levante passou a se autodenominar apenas Estado Islâmico. Isso implica uma reivindicação sobre o mundo inteiro.
Desde então, agiu fora de sua base territorial, no Afeganistão, na Líbia, na Jordânia e no Líbano, num sinal claro de expansão dos horizontes. Sua presença na Líbia aumentou sensivelmente nos últimos seis meses.
Em novembro, o Estado Islâmico tomou a cidade de Darná, perto da fronteira com o Egito. A partir daí, tentou ampliar sua área de atuação para Bengázi, a segunda maior cidade líbia; Sirte, a terra natal do finado ditador Muamar Kadafi; e a capital, Trípoli. Em 27 de janeiro de 2015, atacou o Hotel Corinthia, o mais importante da capital líbia.
Na análise da empresa de estudos estratégicos Stratfor, a presença do Estado Islâmico é menor na Líbia do que na Síria e no Iraque, onde está enfrentando uma aliança internacional liderada pelos Estados Unidos.
Seu fortalecimento se deu às custas de outros grupos jihadistas como Ansar al-Charia, responsável pelo ataque contra o Consulado dos EUA em Bengázi em 11 de setembro de 2012, quando quatro americanos foram mortos, inclusive o embaixador na Líbia. Até a degola dos 21 cristãos egípcios, não havia atraído muita atenção internacional.
Assim, apesar do apelo do primeiro-ministro Abdala al-Thani por uma intervenção militar no país, é provável que países vizinhos como o Egito e os Emirados Árabes Unidos combatam o Estado Islâmico na Líbia. Os EUA podem fazer bombardeios aéreos e de mísseis.
O Egito tem as maiores e mais poderosas Forças Armadas do mundo árabe, mas a crise política e econômica permanente desde a chamada Primavera Árabe, de 2011, limita sua capacidade de intervenção. Uma longa campanha no exterior exigiria financiamento externo. Talvez as monarquias petroleiras do Golfo Pérsico se disponham a colaborar.
Além disso, a ditadura do marechal Al-Sissi enfrenta uma rebelião na Península do Sinai que exige um reforço militar na região, que fica entre o Canal de Suez e Israel e a Faixa de Gaza. É mais provável que limite sua intervenção na Líbia a bombardeios aéreos, dependendo, é claro, da ferocidade dos jihadistas, que sequestraram mais 35 egípcios.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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