Com uma eleição presidencial disputadíssima, os advogados dos dois grandes partidos dos Estados Unidos se preparam para batalhas judiciais até o último voto. Desde o início do ano passado, 23 governadores estaduais sancionaram leis que restringem o direito ao voto, informa a revista The New Republic.
A principal exigência pode parecer até estranha para um brasileiro. Em vários estados, só vota quem apresentar um documento oficial com foto. Como os EUA são uma sociedade liberal, seus cidadãos não são obrigados a portar identidade. Tiram documentos quando precisam deles, como carteira de motorista e passaporte.
Um estudo do Centro Brennan, da Universidade de Nova York, indica que 25% dos negros, 16% dos latinos e 8% dos brancos não têm documentos emitidos pelo governo. A exigência, então, prejudica o voto das minorias, que tendem a votar mais em democratas do que em republicanos.
O estado mais rigoroso é o Kansas, ultraconservador, parte do chamado Cinturão da Bíblia. Lá, Obama não tem chance. Mas é em estados-chaves como Ohio, o grande campo de batalha desta eleição, em que essas manobras podem ser decisivas. É o estado que mais recebeu visitas de candidatos nesta eleição: 83, ao todo.
Nenhum republicano chegou à Casa Branca até hoje sem ganhar em Ohio. Desde 1964, o vencedor no estado vira presidente.
Em 2004, o então presidente George W. Bush ganhou a eleição na onda de solidariedade e união nacional que se seguiu aos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, mas, para isso, precisava de Ohio. O então secretário de Estado do governo estadual, Ken Blackwell, rejeitou pilhas de registros eleitorais. Em algumas zonas eleitorais, faltaram máquinas de votação. Os eleitores tiveram de esperar horas na fila.
A demora em votar, usada sobretudo para afastar negros e latinos das urnas, é um sintoma da deterioração da democracia americana.
O maior problema foi a eleição de Bush em 2000, quando ele perdeu no voto popular para o presidente Al Gore, mas ganhou no Colégio Eleitoral por causa da Flórida, onde seu irmão Jeb Bush era governador. A secretária de Estado da Flórida, que presidiu a eleição no estado, chefiou a campanha de W.
Houve o famoso voto-borboleta, onde nomes apareciam dos dois lados da cédula, confundindo o eleitor, e um longo debate sobre votos dados mecanicamente em que a cédula não estaria claramente perfurada.
A vitória de Bush só foi confirmada quando a Suprema Corte mandou a Flórida suspender uma recontagem geral dos votos ordenada pelo Tribunal de Justiça do Estado. O presidente que deixava o cargo, Bill Clinton, chegou a ironizar em campanhas posteriores: "Aqui as eleições são diferentes. Eles contam todos os votos".
Uma segunda vitória de um presidente no Colégio Eleitoral sem respaldo no voto popular reacenderia a discussão sobre a necessidade e a conveniência de reformar a Constituição para eleger diretamente o presidente. Mas isso exige dois terços dos votos nas duas câmaras do Congresso e a ratificação por 75% dos estados - e o atual sistema dá grande poder aos pequenos estados.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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