Por 172 a 40 votos, a bancada do Partido Trabalhista na Câmara dos Comuns do Parlamento Britânico aprovou hoje uma moção de desconfiança contra o líder Jeremy Corbyn por causa da derrota no plebiscito sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia. Corbyn, eleito diretamente pelas bases do partido, se nega a renunciar.
Desde domingo, mais de 20 membros do governo paralelo da oposição trabalhista pediram demissão em protesto contra a liderança de Corbyn, um membro da velha esquerda que sempre viu a UE como um projeto de integração capitalista e se recusou a fazer campanha pela Europa ao lado do primeiro-ministro David Cameron.
Cameron enfrentou hoje sua primeira reunião de cúpula da UE depois da derrota no plebiscito que convocou para tentar acabar com a guerra civil interna do Partido Conservador em torno da Europa, que vem desde a queda da primeira-ministra Margaret Thatcher, em 1990.
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, deixou claro mais uma vez que as negociações não começam antes de um pedido oficial do Reino Unido para sair do bloco.
Como Cameron se nega a deflagrar o processo, isso depende da eleição de um novo líder do Partido Conservador, que será então nomeado pela bancada novo primeiro-ministro britânico.
No primeiro momento depois do plebiscito, o ex-prefeito de Londres Boris Johnson, líder da campanha pela saída da UE, era o franco favorito. Mas a última sondagem dá vantagem à ministra do Interior, Theresa May.
Eurocética, May não se empenhou na campanha para sair por lealdade ao primeiro-ministro Cameron, enquanto Johnson é visto como um oportunista que aderiu aos antieuropeus para chegar ao poder. Com Johnson sendo chamado de "homem que quebrou o Reino Unido", crescem as chances de Theresa May ser a segunda mulher a liderar os conservadores, depois de Thatcher (1979-90).
Pela tradição do Partido Conservador, quem mata o rei não ascende ao trono. Em 1990, Michael Heseltine derrubou Thatcher, mas quem foi eleito líder do partido foi John Major.
Enquanto os dois maiores partidos britânicos não tiverem novos líderes, o caos político no Reino Unido não vai acabar e os mercados financeiros vão continuar sofrendo o choque da Brexit (Britain exit).
A primeira-ministra da Escócia, Nicola Sturgeon, anunciou que vai amanhã a Bruxelas para discutir com os líderes europeus uma maneira de manter o país na UE, alegando que "62% dos escoceses votaram para ficar na UE" e seria antidemocrático frustrar suas aspirações. O Partido Nacional Escocês, que domina amplamente a política no país, já organiza um novo plebiscito sobre a independência da Escócia.
O chamado empresário hippie, Richard Branson, que começou vendendo discos e hoje tem companhias áereas e um ilha no Mar do Caribe, defende a convocação de um segundo plebiscito quando as consequências econômicas da saída da UE ficarem claras para o eleitorado britânico.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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