O moderno jihadismo sunita nasce da resistência contra
a invasão soviética no Afeganistão, no Natal de 1979. Uma aliança entre os
Estados Unidos, a Arábia Saudita, a China e o Paquistão financiou, armou e
treinou uma guerrilha que está na origem do Estado Islâmico do Iraque e do
Levante, a mais poderosa organização terrorista não estatal da história.
Depois da vitória sobre a União Soviética, os chamados árabes afegãos fundaram a rede
terrorista al Caeda (a Base), em 1988, sob a liderança de Ossama ben Laden, e se voltaram contra os EUA, principalmente depois que forças americanas foram para a Arábia Saudita defender o reino da ameaça de Saddam Hussein, que invadira o vizinho Kuwait em 1990.
Quando as embaixadas
dos EUA no Quênia e na Tanzânia foram atacadas, em agosto de 1998, o então
presidente Bill Clinton mandou bombardear os campos da Caeda no Afeganistão,
mas não foi além disso.
A resposta veio com os atentados de 11 de setembro de 2011,
um marco da globalização do terrorismo. Até então, os atos de terrorismo era
cometidos por regimes ditatoriais ou por grupos rebeldes armados movidos por
interesses nacionalistas, como os movimentos de libertação nacional do
pós-guerra.
Com a guerra declarada por George W Bush contra o terrorismo
e as invasões do Afeganistão e do Iraque, no período de 2005-10, al Caeda se
dispersou em ramos nacionais mais interessados em atacar o “inimigo próximo”,
ou seja, governos locais ou nacionais. A morte de Ben Laden, em 2 de maio de 2011, foi outro duro golpe na organização.
Neste sentido, no livro Estado
Islâmico: uma breve introdução, publicado em 2015, Charles Lister argumenta
que, “embora as conspirações terroristas contra alvos ocidentais continuem, a
principal ameaça aos interesses do Ocidente hoje está na crescente
instabilidade do Oriente Médio, que os grupos jihadistas exploram em seu
próprio benefício.”
Esta zona de instabilidade inclui hoje o Iraque, a Síria, o
Líbano, o Sul da Turquia e o Norte da Jordânia, para não falar da guerra civil
no Iêmen, que é distante geograficamente, fica do outro lado da Arábia Saudita,
no Sul da Península Arábica.
Tanto a invasão o Iraque de 2003 quanto a guerra civil na
Síria tiveram grande peso na desestabilização do Oriente Médio, mas “o maior
risco à estabilidade em longo prazo brota da visão dos jihadistas que formaram
em 2013 o Estado Islâmico do Iraque e do Levante ou Daech (acrônimo árabe),
também conhecido pelas siglas em ingles ISIS ou ISIL.
Em 29 de junho de 2014, no primeiro dia do sagrado mês do Ramadã, o porta-voz do EIIL, Taha Subi
Falaha (Abu Muhammad al Adnani) proclamou a restauração do Califado sob a
liderança de Ibrahim Awwad Ibrahim Ali al-Badri (Abu Bakr al-Baghdadi).
Na mesma data, o grupo mudou seu nome para Estado Islâmico e
passou a chamar seu líder de Califa Ibrahim.
A refundação do califado aconteceu dias depois de uma grande
vitória militar. Em 9 e 10 de junho, o Estado Islâmico tomou em menos de 24
horas Mossul, a segunda maior cidade do Iraque, inflamando a revolta da minoria
sunita, que estava no poder durante a ditadura de Saddam Hussein, contra o
governo do primeiro-ministro xiita Nuri al-Maliki
Quando o Califa Ibrahim fez sua primeira e única aparição em
pública, em 4 de julho, na mesquita central de Mossul, o território controlado
Estado Islâmico ia de al-Babe, na província de Alepo, na Síria, até Suleiman
Bek, na província de Saladino, no Iraque, a mais de 600 quilômetros de
distância.
Antes de conquistar Mossul, os ativos do EI somavam pelo
menos US$ 875 milhões, estimou o jornal inglês Financial Times. Em setembro, o
total subiu para cerca de US$ 2 bilhões com o equipamento tomado do Exército do
Iraque, que desertou, a cerca de US$ 2 milhões por dia ganhos com o contrabando
de petróleo.
O Estado Islâmico virou uma séria ameaça tanto para a
segurança regional quanto para a internacional e um concorrente direta da rede
al Caeda na luta pela liderança do movimento jihadista internacional na busca
de legitimidade, recursos e voluntários para o martírio.
Depois da uma campanha genocida com o povo yazidi e a degola
de reféns ocidentais, em agosto de 2014, o presidente Barack Obama anunciou a
articulação de uma coalizão aérea para bombardear o Estado Islâmico com o
objetivo de “degradar e destruir” o EI.
A aliança tem hoje 65 países. Desde 30 de setembro de 2015,
a Rússia intervém na guerra civil da Síria atacando grupos que lutam contra a
ditadura de Bachar Assad. A França passou a atacar também na Síria depois dos
atentados que mataram 130 pessoas em Paris em 13 de novembro.
Apesar da intensa pressão, o EI ainda se mostra capaz de
realizar operações ofensivas, embora não tenha obtido vitórias importantes desde a tomada de Palmira, na Síria, e de Ramadi, no Iraque, em maio de 2015.
“Qualquer estratégia para conter o EI deve atacar os
problemas políticos e sociais do Iraque e da Síria”, conclui Lister. Além da
guerra para negar território ao califado, será necessário combater as ações
terroristas do grupo, cortar suas fontes de financiamento e travar uma guerra
ideológica contra o extremismo muçulmano.
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