Desde 24 de novembro, quando a Turquia derrubou um caça-bombardeiro russo acusando-o de violar seu espaço aérea, a Rússia intensificou os ataques aéreos contra a população civil turcomena do Norte da Síria, destruindo padarias e comboios com ajuda humanitária para cortar a chegada de comida a mais de meio milhão de pessoas, denuncia o Conselho de Refugiados da Noruega (CRN).
A intensificação dos bombardeios levou à suspensão de todas as operações de ajuda na região. Desde o início da intervenção militar da Rússia, em 30 de setembro, "houve uma grande onda de desalojados internamente", declarou Karl Schembri, coordenador regional do CRN.
Depois de 24 de novembro, a situação ficou ainda pior: "As pessoas não conseguem se mover nem para fugir e não têm para onde ir", acrescentou o porta-voz da agência de ajuda humanitária.
Logo depois do abate do caça, bombardeiros russos atacaram um centro de distribuição de alimentos. Em cinco dias, o local foi atacado cinco vezes. Quinze caminhões foram incendiados.
Em 26 de novembro, a Rússia destruiu um silo de armazenamento de grãos em Tasbabete que abastecia todos os moinhos e padarias da província de Idlibe, protestou o Escritório de Coordenação de Ações Humanitárias das Nações Unidas. No dia seguinte, o alvo foi uma padaria em Saraquebe que serviu 50 mil pessoas por dia.
Em 28 de novembro, um bombardeio destruiu outra padaria e a hidráulica de Maaret Numan, no Sul da província de Idlibe. Em Jisr Chughour, a Rússia arrasou duas escolas onde estudavam mais de mil alunos.
"Os combates estão destruindo toda a infraestrutura civil, de casas a escolas, padarias e hospitais", lamentou o secretário-geral do conselho norueguês, Jan Egeland, ex-subsecretário-geral da ONU para questões humanitárias. "Tivemos de suspender todos os nossos programas por causa da situação de segurança justamente quando [a ajuda] é mais necessária."
Todos os países vizinhos da Síria fecharam as fronteiras, inclusive a Turquia. Em sua vingança, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, quer cortar a linha de suprimento entre a Turquia e os rebeldes e a população de origem turca apoiados por Ancara na guerra civil síria.
Os Estados Unidos e outros aliados da Turquia na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) aceitaram a alegação do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, de que seu país apenas defendeu seu território e seu espaço aéreo.
Na última quinta-feira, Putin descreveu o incidente como "um crime de guerra horroroso, o assassinato de nossa gente". Em tom de ameaça, advertiu que a Turquia vai lamentar a ação "mais de uma vez".
Ao mesmo tempo, Moscou passou a apoiar os rebeldes curdos ligados ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que luta pelos direitos da minoria curda na Turquia.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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