Com a cobertura da Força Aérea dos Estados Unidos e o apoio de milícias xiitas treinadas pelo Irã, o Exército do Iraque conseguiu cortar a linha de suprimento para o Estado Islâmico do Iraque e do Levante em Ramadi, capital da província de Ambar, tomada pelo grupo em maio de 2015.
Ramadi foi a última conquista militar importante do Estado Islâmico no Iraque. É uma cidade sunita de cerca de 1 milhão de habitantes onde o governo central predominantemente xiita de Bagdá é visto com suspeita.
"Cortamos a linha de suprimento do Daech [acrônimo árabe do EI] entre Ramadi e a Síria", declarou um oficial do comando militar iraquiano em Ambar. "Agora as forças iraquianas podem sufocar os terroristas dentro da cidade e devemos vencer em alguns dias."
O mesmo otimismo no passado não se confirmou no campo de batalha. "As forças iraquianas têm dificuldades em operações urbanas. Ramadi vai ser difícil depois de entrar na cidade", observou um assessor militar ocidental do governo autônomo regional do Curdistão citado pela companhia jornalística americana McClatchy Newspapers, editora do jornal The Miami Herald.
A retomada de Ramadi não será fácil como a reconquista de Tikrit, a terra natal de Saddam Hussein, o ditador deposto pelos EUA em 2003, acrescenta o oficial: "Eles só foram capazes de assumir o controle de Tikrit, uma cidade muito menor e vazia, por causa do bombardeio aéreo pesado da coalizão" de 65 países liderada por Washington.
Agora, raciocina o assessor ocidental, "isso não será possível porque o Daech não deixou muita gente fugir quando tomou Ramadi. O combate casa a casa é duro para exército bem treinados, e o Exército do Iraque está longe disso."
O cerco a Ramadi começou na quarta-feira passada. Desde então, houve pelo menos sete bombardeios aéreos diários, principalmente nos arredores da cidade para dificultar a mobilidade do EI.
Na estratégia do presidente Barack Obama para "degradar e destruir" o Estado Islâmico, a Força Aérea dos EUA ataca unidades militares, mas evita ataques onde haja populações civis. Até há pouco, antes dos atentados terroristas em Paris, não bombardeava nem as exportações de petróleo, principal fonte de renda do EI.
O primeiro-ministro do Iraque, Heidar al-Abadi, critica os EUA por não fazer ataques aéreos contra áreas povoadas.
"Eles transformaram Ramadi numa bomba gigantesca desde maio. O número de bombas, minas e homens-bomba torna o avanço muito lento", admitiu um oficial do comando iraquiano em Ambar. "Alguns só avançamos 50 metros e temos de desarmar dez bombas nesse avanço."
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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2 comentários:
Milícias xiitas treinadas no Irã; quando o problema todo é obter o equilíbrio entre xiitas ( Assad ) e sunitas ( com um sucessor de Sadam Hussein ), não seria apagar o fogo com gasolina?
Este é um problema grave. Com a participação de milícias xiitas apoiadas pelo Irã, as populações sunitas podem preferir o Estado Islâmico.
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