quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Macri assume pedindo união e fim de enfrentamentos inúteis

Sem maioria no Congresso e sob boicote da ex-presidente Cristina Kirchner, o empresário Mauricio Macri tomou posse hoje como presidente da Argentina com um discurso de conciliação pedindo a união de todos para acabar com os "enfrentamentos inúteis", noticiou o jornal espanhol El País.

"Buscamos um país unido na diversidade, queremos a contribuição de todos, de direita e de esquerda, peronista e não peronistas", declarou Macri depois de prestar juramento num Congresso com boa parte das cadeiras vazias por causa do boicote do kirchnerismo.

A presidente Cristina Kirchner queria passar o cetro e a faixa presidenciais no Congresso para ser aplaudida pela sua claque e não na Casa Rosada, como é a tradição da política argentina. Houve então nos últimos dias um duelo em torno da cerimônia de posse.

Irritado com o boicote de Cristina, Macri recorreu à Justiça para saber a que horas terminava o mandato da ex-presidente. Em princípio, seria no momento da transmissão da faixa, por volta do meio-dia de 10 de dezembro. Se fosse assim, como presidente, Cristina teria o direito de organizar a cerimônia.

A juíza María Servini de Cubría decidiu que o governo Macri começava à meia-noite, então a responsabilidade passou para o novo presidente.

No seu último dia de governo, Cristina inaugurou um busto do falecido marido Néstor Kirchner na Casa Rosada e mudou a conta da Presidência da Argentina no Twitter, que passou a ser Presidência de Néstor e Cristina Kirchner (2003-15).

Em outro gesto de extrema mesquinharia, Cristina não ordenou o fechamento do espaço aéreo de Buenos Aires para facilitar a chegada dos chefes de Estado estrangeiros. O avião da presidente Dilma Rousseff teve de esperar na fila para aterrissar. Ela chegou atrasada.

Os maiores desafios de Macri são reequilibrar a economia da Argentina, onde a economia está em recessão, a inflação ronda os 30% ao ano, o déficit orçamentário passa de 7% do produto interno bruto e as reservas cambiais foram reduzidas a US$ 27 bilhões pelas políticas irresponsáveis do kirchnerismo. O Brasil tem US$ 370 bilhões de reservas em moeda forte.

Isso dificulta a liberalização do câmbio, que poderia provocar uma corrida por dólares capaz de esgotar as reservas do combalido Banco Central argentino, além de acelerar a inflação.

Depois de décadas de hiperinflação, os argentinos se habituaram a poupar em dólares, que circulam como moeda corrente, podendo ser usados até para comprar jornal numa banca.

Isolada do mercado financeiro internacional, Cristina passou a controlar o câmbio e dificultar as importações, afetando negativamente a economia argentina como um todo.

Para equilibrar as contas públicas, Macri terá de cortar os subsídios de energia e alimentos adotados depois que o colapso da dolarização da era Carlos Menem (1989-99), quando 58% caíram na pobreza. Apesar da recuperação de sua pior crise econômica recente, 25% a 30% dos argentinos ainda vivem na miséria.

Como o candidato de Cristina teve 48% dos votos, essa metade do país é a massa de manobra de que a ex-presidente dispõe para boicotar o governo Macri. Em seu último discurso, ela atacou o novo presidente, acusando-o de ser representante de interesses estrangeiros, a velha cantilena da esquerda atrasada latino-americana.

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