Em seu primeiro grande discurso de política externa, o novo presidente da França, Nicolas Sarkozy, defendeu hoje uma ampliação do Conselho de Segurança das Nações Unidas, com a inclusão como membros permanentes de Alemanha, Brasil, Índia, Japão e um representante da África, e do Grupo dos Oito (EUA, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Canadá e Rússia), com a adesão de África do Sul, Brasil, China, Índia e México.
Para o pesquisador Philippe Moreau Defarges, o discurso de Sarkozy não teve "nada de sensacional, nada de extraordinário. É sobretudo um discurso que se define pela prudência. Há uma grande continuidade . Segue a linha de política externa da França desde o general De Gaulle: a França deve se manter como potência mundial, buscar um engajamento europeu e um equilíbrio internacional, sobretudo na questão nuclear".
Na sua opinião, as principais diferenças em relação ao ex-presidente Jacques Chirac são "um engajamento europeu mais acentuado" e uma "tonalidade pró-americana". Sarkozy quer uma Europa que assuma a condição de superpotência, fala em aliança sem alinhamento com os Estados Unidos, e vê o dispositivo de defesa europeu como complementar e não concorrente da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
É um forte e decidido apoio à pretensão brasileira a um assento permanente no Conselho de Segurança. Sarkozy não tocou na questão mais sensível: os novos membros terão o poder de veto dos atuais cinco grandes (EUA, China, França, Reino Unido e Rússia)? Mas deixou claro que os líderes mundiais perderam tempo depois do fim da Guerra Fria para criar uma nova ordem internacional.
O presidente francês apontou três grandes desafios para este começou de século 21:
1. Evitar uma confrontação entre o Islã e o Ocidente como querem os jihadistas que sonham em recriar o Califado reunindo os muçulmanos da Nigéria à Indonésia, rejeitando qualquer abertura, toda modernidade e qualquer diversidade. "Se essas forças atingissem seu objetivo sinistro, este século seria ainda pior que o passado".
2. Como integrar na nova ordem global os gigantes emergentes, a China, a Índia e o Brasil? "Motores do crescimento mundial, eles são também fatores de graves desequilíbrios; gigantes de amanhã, querem ter seu status reconhecido mas ainda não estão prontos para respeitar as regras que são do interesse de todos", disse Sarkozy.
3. Como enfrentar as grandes ameaças globais, pela primeira vez identificadas cientificamente por esta geração, sejam as mudanças do clima, as novas pandemias ou a questão energética?
Sarkozy pensa no que a França tem a oferecer ao mundo, "porque tem um dos povos mais dinâmicos e de melhor formação, uma das economias de melhor desempenho, Forças Armadas e diplomacia das melhores". Mas adverte: "A França, como qualquer outro país, não tem direito adquirido a seu status internacional. Sua mensagem será entendida se ela for levada por um povo ambicioso e confiante, uma sociedade reconciliada consigo mesma e com uma economia de alto desempenho".
Ele acredita que "a emergência de uma Europa forte, um dos principais atores da cena internacional, pode contribuir de modo decisivo à construção de uma ordem mundial mais eficaz, mais justa, mais harmoniosa que os povos reclamam".
Numa das principais mudanças em relação a seu antecessor Jacques Chirac, o novo presidente francês pensa que a "amizade entre a França e os EUA é tão importante hoje como nos dois séculos passados. Aliados não quer dizer alinhados, e eu me sinto completamente livre para exprimir tanto os acordos quanto os desacordos sem complacência nem tabus".
Os valores da França que Sarkozy oferece ao mundo são "os da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, do humanismo e também, mais recentemente, do dever de proteção humanitária encarnado por homens como Bernard Kouchner, que tive a honra de acolher em meu governo e de lhe dar a direção da nossa diplomacia".
"A construção da Europa será uma prioridade absoluta de nossa política externa", afirmou Sarkozy. "Sem uma União Européia forte e ativa, a França não poderá apresentar respostas eficazes aos grandes desafios do nosso tempo. Sem que a Europa assuma o papel de potência, o mundo não terá um pólo de equilíbrio necessário".
Mais uma vez, ele se declarou contra a adesão da Turquia, alegando que não é um país europeu.
Outro ponto importante foi a retomada da Iniciativa Européia de Defesa Estratégica, lançada em Saint-Malo, na França, num encontro entre as duas potências européias com Forças Armadas importantes: França e Reino Unido. Com o distanciamento entre os dois países por causa da invasão americana no Iraque, o projeto estava parado.
"A UE dispõe de toda uma gama de instrumentos de intervenção durante crises: militares, humanitárias e financeiras. Deve se afirmar como um ator do mais alto nível na luta pela paz e a segurança no mundo, em cooperação com as Nações Unidas, a aliança atlântico e a União Africana."
Para Sarkozy, não faz nenhum sentido opor a UE e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a aliança militar liderada pelos EUA: "Precisamos das duas".
Confira no jornal Le Monde a íntegra do discurso do presidente da França, que pode ter acesso restrito a assinantes.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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