No momento, a senadora e ex-primeira-dama Hillary Clinton é a favorita para vencer a eleição presidencial de 2008 nos Estados Unidos, afirmou ontem o jornalista Paulo Sotero, diretor do programa de Brasil do Woodrow Wilson Center, em Washington, em seminário realizado no Centro Brasileiro de Relações Internacionais, no Rio.
Ele acredita que só a rejeição da senadora poderia levar os caciques do Partido Democrata, franco favorito por causa do fracasso do governo George W. Bush, a impor a candidatuta do vice-presidente Al Gore, cada vez mais popular por sua campanha contra o aquecimento global.
Sotero vê um "ocaso da era conservadora", alegando que "a radicalização da direita religiosa provocou uma reação. O presidente George Walker Bush usou seu governo para instrumentalizar grupos religiosos".
Para invadir o Iraque, Bush manipulou a hipersensbilidade pós-11 de setembro de 2001, observou Sotero: "Quando os EUA entraram na Segunda Guerra Mundial, o presidente Franklin Roosevelt disse: 'Só devemos temer o medo'. Bush usou o medo como instrumento de controle político. O Iraque foi um enorme erro. É mais um celeiro de terroristas. O Irã está mais forte hoje que em 10 de setembro de 2001. De acordo com os serviços secretos, a ameaça d'al Caeda é hoje muito maior."
Diante deste Síndrome do Iraque que levou Bush a invocar o Vietnã como exemplo de uma retirada prematura, a guerra dominará a campanha para a eleição presidencial de 2008.
O ex-subchefe da Casa Civil da Casa Branca, Karl Rove, o ideólogo e marketeiro de Bush, que acaba de deixar o cargo e a posição de eminência parda do desgoverno Bush "queria criar uma maioria permanente do Partido Republicano", acrescentou Sotero. "Hoje, metade do eleitorado vota democrata".
"Tudo aponta para a senadora Hillary Clinton", analisa o jornalista. "Seu maior adversário, o senador Barack Obama, tem talento, carisma e uma incrível capacidade de arrecadação, mas não traduz isso em votos. Tem o ex-senador John Edwards, com um discurso populista em cima da pobreza. Al Gore é um fator importante. Fico imaginando que ele ganhará o Prêmio Nobel da paz e aproveitará a oportunidade para se lançar candidato".
Hillary tem um problema: uma forte rejeição. "Talvez, se Hillary chegar à convenção do partido com rejeição alta, os caciques democratas queiram impor Gore. Há uma sensação de que ele foi injustiçado. Deveria ter vencido a eleição de 2000."
O processo de seleção dos candidatos em eleições primárias e convenções estaduais está em fase de esgotamento e mudança, anunciou Sotero. As votações estão sendo antecipadas em tentativas dos diferentes estados de aumentar seu peso na escolha dos candidatos à Casa Branca. "Em 5 de fevereiro, haverá primárias ou convenções em 18 estados. Talvez já tenhamos os favoritos".
No Partido Republicano, "o desânimo é tanto que surgem novos candidatos a cada semana. O último é o ex-senador Fred Thompson". Já estavam na disputa o ex-prefeito de Nova Iorque Ruldolph Giuliani, o ex-governador de Massachusetts Mitt Romney e o senador Joe McCain, veterano do Vietnã, onde foi prisioneiro de guerra dos vietcongues durante anos.
Um terceiro cenário seria uma eleição presidencial com três candidatos nova-iorquinos: Hillary, Giuliani e o atual prefeito de Nova Iorque, Michael Bloomberg, bilionário, dono de uma das principais agências de notícias econômicas. Era democrata. Elegeu-se prefeito como republicano. Agora virou independente.
A História dos EUA mostra que os independentes não ganham a eleição presidencial mas influenciam o resultado final, lembrou o diretor do Instituto Brasil do Woodrow Wilson Center. "Ross Perot foi deciviso para a eleição de Bill Clinton em 1992", contra George Bush, o pai, e Ralph Nader para a vitória de Bush, filho, em 2000".
Na avaliação de Paulo Sotero, Hillary na Casa Branca seria bom para o Brasil: "Seria uma novidade. O primeiro presidente dos EUA que sabe quem somos, onde fica do Brasil, conhece os programas brasileiros de biocombustíveis e a criatividade dos programas sociais brasileiros".
Independentemente do resultado para a Presidência, o jornalista prevê uma ampliação da maioria democratas na Câmara e no Senado dos EUA, "um problema para nossa política comercial porque os democratas são mais protecionistas".
Com maioria republicana, antes da eleição de novembro passado, a Autorização para Promoção Comercial passou por apenas um voto e o Acordo de Livre Comércio da América Central foi aprovado com dois votos de vantagem na Câmara e a oposição de Hillary e de Obama no Senado, lembrou.
Há três acordos bilaterais com países latino-americanos na fila: Colômbia, Peru, e Panamá. Por causa dos escândalos envolvendo o governo Álvaro Uribe com grupos paramilitares de direita acusados de terrorismo, hoje é mais provável que o acordo com a Colômbia não seja aprovado.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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