Depois de anunciar hoje que decidiu manter a taxa básica de juros inalterada em 5,25% ao ano, a nota do Comitê de Mercado Aberto do Federal Reserve Board (Fed), o banco central dos Estados Unidos, diz que “o crescimento econômico foi moderado durante a primeira metade do ano”. É uma constatação.
Em seguida, lista os problemas recentes: “Os mercados financeiros estão mais voláteis nas últimas semanas, as condições de financiamento se tornaram mais apertadas para algumas famílias e empresas, e a correção no setor habitacional está em andamento.”
Ou seja: as bolsas caíram, a crise com os financiamentos habitacionais de segunda linha levou a um aperto de crédito para pessoas, famílias e empresas, e os preços da casa própria continuam caindo.
No entanto, o Comitê do Mercado Aberto, numa mensagem positiva, pondera que “a economia parece que vai continuar se expandindo num ritmo moderado nos próximos trimestres, apoiada no sólido crescimento do emprego e da renda e numa economia global robusta.”
O Fed está otimista. Não vê nenhuma catástrofe pela frente com a crise dos empréstimos de segunda linha. A economia deve continuar crescendo em ritmo lento, mas o crescimento do emprego ficou aquém do esperado passado, com apenas 92 mil novos empregos gerados no mês passado a mais do que destruídos.
Mas a economia global está aí, forte e robusta. Com o extraordinário desenvolvimento da China e da Índia, já não depende tanto da economia dos Estados Unidos.
Agora, a nota entra na questão central: “As leituras do núcleo da inflação melhoraram modestamente nos últimos meses. No entanto, a moderação sustentável das pressões inflacionárias ainda está por ser convincentemente demonstrada. Além disso, o alto nível de utilização de recursos tem o potencial de sustentar essas pressões.”
O núcleo da inflação, expurgados os preços de energia e de alimentos, que é o índice mais observado pelo comitê de política monetária do Fed, caiu lentamente e o comitê não está certo de que as pressões inflacionárias acabaram.
Por isso, não houve indicação de tendência de queda de juros, como queria o mercado. Ainda por cima, o crescimento rápido da China está provocando uma alta nos preços dos produtos primários, inclusive do petróleo, que chegou a nível recorde na semana passada.
Não é novidade para ninguém que preços das matérias-primas, especialmente do petróleo, fatalmente teriam um impacto sobre a economia mundial. O Fed não diz nenhuma novidade.
Embora admita que os riscos de uma queda no crescimento tenham aumentado, a maior preocupação política do comitê é o risco de a inflação não caia como se espera. Aumentaram os riscos de recessão, mas o Fed ainda está mais preocupado com a inflação, por isso não sinalizou uma queda de juros já em setembro.
“Os futuros ajustes da política monetária vão depender das perspectivas tanto para a inflação quanto para o crescimento econômico, com base nas informações que receberemos.”
Conclusão: a economia dos EUA continua a enviar sinais contraditórios. Sua capacidade é formidável mas o endividamento também. E tudo indica que vai continuar assim, provocando sustos no mercado.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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