Cada vez mais isolado, o ditador do Paquistão, general Pervez Musharraf, concordou em deixar o comando do Exército, num acerto com a ex-primeira-ministra Benazir Bhutto para encaminhar a redemocratização do país, informou Benazir Bhutto em entrevista à rede de televisão americana CNN.
O ex-primeiro-ministro Nawaz Sharif, derrubado em 1999, quando tentou afastar Musharraf, também está voltando ao país. Como lidera um partido muçulmano, ainda que moderado, os EUA pressionaram Musharraf a se aproximar de Benazir Bhutto, que um dia o general já chamou de ladra, por causa dos escândalos de corrupção.
No ranking da organização não-governamental Transparência Internacional, o Paquistão aparece sempre como um dos países mais corruptos do mundo.
Sob intensa pressão da classe média e dos setores mais moderados do Paquistão, Musharraf ameaçou decretar estado de emergência a pretexto de combater os talebã e Al Caeda nas regiões tribais da fronteira com o Afeganistão. Foi dissuadido energicamente pela secretária de Estado americana, Condoleezza.
Ao contrário da Índia, vizinha e inimiga histórica, uma democracia desde que os dois países se tornaram independentes do Império Britânico, em 1947, a História do Paquistão é marcada por golpes e ditaduras militares.
Todos os golpes bem-sucedidos foram dados pelo comandante das Forças Armadas. O Exército é o fiador desta nação que surgiu como uma pátria para os muçulmanos que não queriam ser minoria na Índia.
O Paquistão é um país-chave na guerra dos EUA contra o terrorismo. É o único país muçulmano com armas nucleares. E o serviço secreto do Paquistão foi padrinho e patrono dos Talebã, uma milícia formada por refugiados das guerras no Afeganistão que estudaram nas escolas religiosas paquistanesas, as madrassás.
Hoje há mais de 30 mil madrassás no Paquistão. Essa proliferação de escolas religiosas que só ensinam o Corão, livro sagrado dos muçulmanos, começou na ditadura do general Zia ul-Haq (1980-88), um aliado dos EUA que ajudou a articular a resistência contra a invasão soviética ao Afeganistão (1979-89).
Sem apoio dos partidos políticos, Zia buscou legitimidade na religião. Os mujahedin fizeram do Afeganistão o Vietnã da União Soviética, criaram Al Caeda (A Base) e de lá partiram para levar sua guerra santa para o resto do mundo.
Mas o maior temor dos EUA é que as armas nucleares do Paquistão caiam nas mãos de muçulmanos radicais como certamente existem nas Forças Armadas do Paquistão. Nas urnas, os partidos ultra-radicais tem entre 10%-15% da votação nesse país de 160 milhões de muçulmanos.
Nos delírios de grandeza dos fundamentalistas que sonham em recriar o Califado como uma superpotência de 1,3 bilhão de muçulmanos regida pela charia (direito islâmico) da Nigéria à Indonésia, com o petróleo do Oriente Médio, as armas nucleares do Paquistão são fundamentais. Não há superpotência sem bomba atômica. Mas não basta. O Paquistão não saiu da miséria por causa da bomba.
O pai da bomba paquistanesa, Abdul Kadir Khan, era contra o monopólio nuclear das grandes potências. Tentou difundir ao máximo a tecnologia de centrifugação que lhe permitiu fazar armas atômicas no Paquistão. É considerado um herói nacional.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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