O presidente George Walker Bush recebeu hoje o primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert. Ambos prometeram apoiar o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, para retomar negociações de paz que levem finalmente à criação de um Estado Nacional palestino.
Com a dissolução do governo de união nacional formado há três meses, ontem os Estados Unidos, a União Européia e Israel anunciaram o fim do embargo econômico adotado desde a vitória do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) nas eleições parlamentares de 25 de janeiro de 2006. O novo governo do primeiro-ministro independente Salam Fayad, empossado no sábado, exclui os fundamentalistas do Hamas.
A estratégia americana é clara: fortalecer a Organização para a Libertação da Palestina, presidida por Abbas, considerado "um parceiro confiável para negociar a paz", e isolar o Hamas, que nas últimas semanas assumiu o controle total sobre a Faixa de Gaza, uma estreita tripa de areia de 360 quilômetros quadrados onde vivem 1,5 milhão de palestinos, na maior densidade populacional do mundo, com 70% de desemprego e subemprego, e uma renda média por habitante de apenas US$ 600 por ano.
Nada indica que o isolamento do Hamas e de Gaza contribuam para a paz no Oriente Médio. Pelo contrário, foi a deterioração da vida cotidiana dos palestinos em conseqüência do embargo provocou uma guerra civil entre o Hamas e a Fatah (Luta), partido político de Abbas, que consolidou seu domínio sobre a Cisjordânia.
Já se fala até numa solução com três Estados - um judaico e dois palestinos -, em vez de dois países, como previsto pelas Nações Unidas ao aprovar a divisão da Palestina e a criação de Israel, há 60 anos.
O objetivo dos EUA é mostrar ao povo palestino que há vantagens em viver sob um governo apoiado pelo Ocidente. Mas o apoio dos EUA e de Israel certamente não contribui para a popularidade de Abbas e dá mais um trunfo para a propaganda do Hamas.
Em outras palavras, aumenta a radicalização e não cria um clima de paz. Ao contrário, o surgimento do chamado Hamastão na Faixa de Gaza e a consolidação do poder da Fatah na Cisjordânia tornam ainda mais distante o sonho de uma pátria palestina. Os EUA e Israel poderiam negociar a criação de um país a partir da Cisjordânia. Mas ela tem colônias onde vivem 200 mil israelenses e há preocupações de segurança muito maiores de parte de Israel.
Israel cedeu Gaza porque não tinha nenhum interesse estratégico naquela estreita faixa de areia. Mas isolar os palestinos de Gaza, 1,4 milhão de pessoas sobrevivendo miseravelmente, só pode acirrar o conflito.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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