O ex-presidente soviético Mikhail Gorbachev advertiu hoje para que não se repitam os erros da Guerra Fria e criticou o projeto dos Estados Unidos de construir um sistema de defesa antimísseis, chamado de Guerra nas Estrelas II, considerando-o arrogante.
Em entrevista à rede de televisão americana CNN, de Moscou, durante a reunião do Grupo dos Oito (EUA, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Canadá e Rússia) Gorbachev declarou que a proposta dos EUA, que inclui estações de radar e interceptadores na República Tcheca e na Polônia, significa que a Europa voltará a ser um alvo.
"Espero que a Guerra Fria não se repita", disse o homem que tentou democratizar a União Soviética. "Há uma possibilidade de que a auto-confiança, a arrogância, levem a uma situação semelhante à da guerra no Iraque".
Diante da instalação do sistema antimísseis, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, resgatou a retórica da confrontação com os EUA, seu país testou um míssil nuclear, ameaçou instalar mísseis nucleares de médio alcance e apontá-los para os aliados europeus dos americanos na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). O presidente George Walker Bush insistiu em que "a Guerra Fria acabou" mas acusou Putin de "descarrilar" as reformas democráticas iniciadas por Gorbachev.
Em novembro do ano passado, o ex-agente russo Alexander Litvinenko foi envenenado mortalmente em Londres com polônio-210, um elemento radioativo, num assassinato no estilo das guerras de espiões da Guerra Fria.
Gorbachev foi o dirigente máximo da União Soviética desde que foi nomeado secretário-geral do Partido Comunista, em 11 de março de 1985, até o fim da URSS, em 31 de dezembro de 1991. Em 8 de dezembro de 1987, assinou com o então presidente americano Ronald Reagan o acordo para acabar com os mísseis nucleares de médio alcance, eliminando pela primeira vez toda uma classe de armas nucleares. É esse tipo de mísseis que Putin ameaça reinstalar como retaliação ao escudo antimísseis dos EUA.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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