Depois de perder a Faixa de Gaza para o Movimento de Resistência Islâmica, a Fatah (Luta), partido do presidente Mahmoud Abbas, consolidou seu domínio sobre a Cisjordânia, criando na prática duas Palestinas. Até a sede do Conselho Legislativo, o parlamento palestino, foi invadida hoje e os escritórios dos deputados do Hamas, saqueados.
Ontem, Abbas nomeou o ex-ministro das Finanças Salam Fayad, um economista conhecido internacionalmente, para substituir Ismail Haniyeh, do Hamas, como primeiro-ministro. O Hamas não aceitou.
É uma ironia da História. Quando as Nações Unidas aprovaram a divisão da Palestina para criar o Estado de Israel, em 1947, os arábes rejeitaram a decisão. Logo após a fundação de Israel, Egito, Síria, Líbano, Transjordânia e Iraque declaram guerra. Meses depois, com a vitória de Israel, mais de 700 mil palestinos foram expulsos de sua casas. Começava a diáspora palestina.
Em 1967, depois da espetacular vitória israelense na Guerra do Seis Dias - com a ocupação da Península do Sinai e da Faixa de Gaza, do Egito; das Colinas do Golã, da Síria; e da Cisjordânia, inclusive o setor oriental de Jerusalém, que pertenciam à Jordânia -, o Conselho de Segurança da ONU aprovou a resolução 242, que previa a criação de um Estado palestino na Cisjordânia e na Faixa de Gaza.
Mais de 20 anos se passaram até que, em 15 de novembro de 1988, a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), liderada por Yasser Arafat, anunciou oficialmente que reconhecia a existência de Israel e abandonava a luta armada, aceitando na prática a partilha da Palestina.
As negociações só começariam na Conferência de Madri, em 1991, depois que os Estados Unidos articularam uma grande coalizão para expulsar as forças iraquianas que invadiram o Kuwait, na Guerra do Golfo. Dois anos depois, as negociações secretas em Oslo levaram ao acordo que previa a devolução, inicialmente, da Faixa de Gaza e da cidade de Jericó, como um primeiro passo para criar confiança entre os inimigos históricos.
O progresso lento no processo de paz, boicotado pelo Hamas, manteve o conflito de baixa intensidade, com ações terroristas e retaliações israelenses. A morte do primeiro-ministro Yitzhak Rabin, assassinado por um direitista radical israelenses, revelou que os dois lados estavam profundamente divididos em relação à paz.
Uma nova onda terrorista ajudou a eleger o direitista Benjamin Netanyahu para primeiro-ministro de Israel, em 1996, paralisando o processo de paz.
Com a volta dos trabalhistas ao poder, em 1999, o primeiro-ministro Ehud Barak resolveu abandonar a estratégia gradualista e partir para um acordo definitivo, que o presidente americano Bill Clinton tentou mediar em Camp David em 2000. O fracasso levou à segunda Intifada e à eleição do linha-dura Ariel Sharon em Israel.
Sharon, o arquifalcão, estava decidido a consolidar as fronteiras do país. Para isso, fundou um novo partido, o Kadima (Avante). Pouco depois, em 4 de janeiro do ano passado, sofreu um derrame que o deixou em coma até agora.
Do lado palestino, a morte de Arafat levou à ascensão de Mahmoud Abbas, considerado tanto pelos EUA quanto por Israel como um parceiro confiável para negociar a paz.
Sob pressão internacional para ganhar legitimidade, Abbas convocou eleições legislativas para 25 de janeiro de 2006. O Hamas ganhou, aprofundando a crise no processo de paz, não porque os palestinos sejam favoráveis ao fundamentalismo muçulmano, mas porque o Hamas é considerado menos corrupto e mais assertivo em relação a Israel.
Como o Hamas não abandonou a luta armada nem reconhece Israel, os EUA, Israel e a União Européia suspenderam a ajuda à Autoridade Nacional Palestina, piorando a situação econômica dos 4 milhões que palestinos que vivem na Cisjordânia e em Gaza. A conseqüência é esta guerra civil.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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