terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Promotor morto cogitou pedir prisão da presidente Cristina Kirchner

O rascunho de um documento em que o promotor Alberto Nisman pediria a prisão da presidente Cristina Kirchner e do ministro do Exterior, Héctor Timerman, por acobertar acusados pelo pior atentado terrorista da história da Argentina faz parte do inquérito sobre a morte dele, confirmou hoje a promotora encarregada do caso, Viviana Fein, noticiou o jornal argentino Clarín.

"Não recebo pressão do governo nem de ninguém. Sou independente", desabafou Viviane Fein, ao comentar nota divulgada ontem pela Procuradoria-Geral da República afirmando que "não foi encontrado nenhum rascunho da denúncia apresentada por Nisman".

Numa acusação ao governo, o superior hierárquico imediato de Viviana Fein, o procurador Ricardo Sáenz, declarou hoje que "é evidente que querem tirar Fein da causa". Sob pressão, ela vai tirar férias de 18 de fevereiro a 5 de março. As passagens aéreas já estariam compradas antes do caso.

O promotor federal Guillermo Marijuán pediu hoje uma investigação sobre as razões pelas quais Nisman foi filmado ao desembarcar no aeroporto de Ezeiza em 12 de janeiro. A gravação, apresentada na TV, podem caracterizar "abuso de autoridade e violações dos deveres de funcionário público".

Nisman foi encontrado morto em seu apartamento em Buenos Aires no domingo, 18 de janeiro de 2015. Na segunda-feira, apresentaria suas conclusões à Comissão de Legislação Penal da Câmara dos Deputados da Argentina.

Ao negar a existência do documento descoberto na lixeira do apartamento do promotor morto, o governo Cristina Kirchner tentou desmentir a notícia divulgada no domingo pelo jornal Clarín, revelando que Nisman cogitara pedir a prisão da presidente por se aliar ao Irã para retirar os mandados internacionais de prisão emitidos contra um libanês da milícia fundamentalista xiita Hesbolá e sete iranianos. Eles foram acusados pelo atentado contra a Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA), que matou 85 pessoas e feriu outras 300 em 18 de julho de 1994.

O ministro-chefe do Gabinete, equivalente ao chefe da Casa Civil no Brasil, Jorge Capitanich, chegou a rasgar uma cópia do Clarín em entrevista coletiva, acusando o jornal de ser "um monte de mentiras e lixo", e ainda bateu boca com o repórter responsável, como registrou o jornal La Nación.

Depois de falar em suicídio, a presidente argentina mudou sua versão para concluir que "não foi suicídio". Sem apresentar qualquer prova, passou a acusar ex-agentes secretos renegados e dissolveu a Secretaria de Inteligência, a ser transformada em agência federal sob seu controle, antes do total esclarecimento da morte do promotor.

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