A presidente Dilma Rousseff estaria insatisfeita com o pouco tempo que durou seu encontra com o presidente dos Estados Unidos hoje em Washington. É que o presidente Barack Obama tinha de catar ovos de Páscoa nos jardins da Casa Branca, um sinal de que o Brasil ainda não tem o peso que merece nas agendas do país mais rico e poderoso do mundo.
Pelo menos acabou a vassalagem do passado, quando o presidente do Brasil tomava a iniciativa de visitar os EUA, às vezes mesmo antes da posse. Dilma fez sua primeira viagem à Argentina, para reafirmar a prioridade que a política externa brasileira dá à América Latina.
Ela gostaria de ser recebida em Washington com as honras de uma visita de Estado, como o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, um país que acaba de ser ultrapassado economicamente pelo Brasil.
Obama declarou na entrevista que as relações entre o Brasil e os EUA nunca foram tão boas. Mas, num ano eleitoral, seria difícil para um presidente americano acusado pela oposição conservadora de esquerdista receber na Casa Branca uma ex-guerrilheira que virou chefe de Estado, apoia o regime comunista de Cuba e o direito do Irã de desenvolver tecnologia nuclear.
O Brasil deixou de ter uma economia 20 vezes menor do que a dos EUA. Já conquistou o direito de dizer não aos EUA, como ficou evidente na Cúpula da América de Mar del Plata, na Argentina, em 2005, quando o projeto da Área de Livre Comércio da América (ALCA) foi enterrado pelos países do Mercosul.
Além da questão ideológica, há um desconforto mútuo. O Brasil desconfia das propostas de parceria dos americanos, supondo que será tratado como sócio inferior, e os EUA entendem que o Brasil perde oportunidades de acelerar seu desenvolvimento quando esnoba os negócios oferecidos pelos americanos.
Dilma quer relançar as relações em bases pragmáticas, em torno de comércio, investimentos, ciência e tecnologia, mas não abandona o discurso da "guerra cambial" e do "tsuname financeiro", que não faz nenhum sentido em Washington.
Para não melindrar a parceria no grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), não se associa aos EUA e à Europa para criticar a manipulação cambial pela China.
Há um certo terceiro-mundismo derivado de um renitente complexo de inferioridade que se recusa a morrer. Os americanos não vão descer de seu pedestal e maior potência mundial.
Como sexta maior economia do mundo e membro do Grupo dos Vinte (G-20), o Brasil não pode adotar políticas de alinhamento automático nem em relação aos EUA como no passado, até o lançamento da política externa independente no início dos anos 60, e muito menos em relação à China, o que seria uma nova vassalagem.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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