Quando um marxismo dogmático de orientação maoísta e polpotiana se chocou com a realidade do interior do Peru, com populações indígenas aprisionadas na exclusão colonial na selva e na cordilheira dos Andes, nasceu o grupo guerrilheiro Sendero Luminoso, conclui o sociólogo Gonzalo Portocarrero, professor catedrático da Faculdade de Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica do Peru.
Nos anos 80 e 90, o Sendero aterrorizou o Peru numa guerra civil com 75 mil mortes. Agora que o país passa por um surto de desenvolvimento necessário para superar o atraso histórico, a guerrilha está de volta, embora não tenha mais a menor chance. É um passado que se nega a morrer.
"O Sendero Luminoso não tem aspiração política de tomar o poder", afirma Portocarrero, que está lançando o livro Profetas do Ódio: raízes culturais e líderes do Sendero Luminoso. Quer manter o controle de certas áreas onde se apresenta como protetor dos fracos e oprimidos, e das gangues de traficantes de drogas.
Em entrevista ao jornal El Comercio, de Lima, onde escreve como comentarista, o sociólogo apresenta o Sendero como filho um marxismo messiânico dos anos 60 e 70, da Grande Revolução Cultural Proletária (1966-76), na China, e da Revolução de Maio de 1968, na França.
"Aparecia a possibilidade de uma mudança social e cultural através de uma revolução", observa Portocarrero. "Os anos 60 são o último grande momento em que esta profecia tem presença no mundo".
Na Europa, havia grupos como Baader-Meinhof e Facção do Exército Vermelho, na Alemanha; Brigadas Vermelhas, na Itália; e Ação Direta, na França.
Na América do Sul, a guerrilha foi derrotada militarmente nos anos 70, com a exceção da Colômbia. No Peru, houve um renascimento tardio, com o Sendero Luminoso e o Movimento Revolucionário Tupac Amaru, de origem estudantil.
"Essa mensagem redentora, essa promessa de libertação encontrou eco em massas que estavam sujeitas a uma situação de exclusão e servidão. A promessa marxista se articula com a persistência da servidão peruana para formar esse coquetel explosivo que é o Sendero Luminoso", observa o professor.
A violência era uma forma de acirrar as contradições, de mover a História e forçar a reação violenta para mostrar o verdadeiro caráter do "Estado genocida".
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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