quarta-feira, 25 de abril de 2012

Crise mudou o mundo mas não há bússola

A economia mundial mudou com a crise, acentuando o declínio relativo do Ocidente rico e do Japão, que marcam passo, enquanto assistimos à ascensão da Ásia. O Brasil surfa na onda do desenvolvimento da China, mas mantém uma relação neocolonial com a superpotência emergente.

Mais cedo ou mais tarde, as maiores economias do mundo, que são União Europeia e Estados Unidos, voltarão a crescer. São os maiores mercados do mundo. Não podem ser desprezados. Basta ver os resultados da Apple.

A inovação e a criatividade, as revoluções industriais em andamento, da informática e da biotecnologia, ainda são lideradas pelos EUA. Os produtos da Apple são projetados em Cupertino, na Califórnia, e montados na China.

Quem fica com a maior parte do dinheiro? A Apple de Cupertino, que faz o design e o software, o segredo do sucesso da empresa. Em segundo lugar, empresas da Coreia do Sul ou de Taiwan que fazem as telas. Depois, a China. Com as margens de lucro cobradas no Brasil, o comércio daqui deve ganhar mais do que os chineses. A Foxconn, acusada de superexplorar seus empregados, é taiwanesa.

A crise colocou em cheque as ideias do internacionalismo liberal que dominou a era de supremacia dos EUA no mundo pós-Guerra Fria, mas não há bússola.

O liberalismo anglo-americano é visto como o grande vilão da crise. A UE, o grande modelo de uma sociedade pós-nacional que decidiu solucionar seus conflitos pacificamente, vive a maior crise de sua história.

O modelo chinês pode agradar ditadores da África ou os últimos regimes comunistas, como Cuba e a Coreia do Norte, em busca de uma saída honrosa. As impressionantes ascensão e queda de Bo Xilai mostraram a verdadeira natureza do regime. Os chamados princepezinhos, filhos de heróis da revolução, tudo podem. Usam suas conexões pessoais e partidárias para subir na vida e acumular fortunas.

A famiglia Bo tinha ou tem ainda US$ 160 milhões. Ele está sendo execrado como uma exceção, mas basta ver a biografia de Xi Jinping, o futuro líder e presidente, para observar que ele subiu na vida graças ao amigos de seu pai. Pode-se dizer o mesmo de George W. Bush, mas devemos lembrar que ele foi uma desgraça para seu país e para o mundo.

Agora, a ditadura chinesa faz uma política de redução e controle dos danos, censurando a discussão na Internet do escândalo político, do maior expurgo desde a queda do secretário-geral Zhao Ziyang por ser contra usar o Exército contra os estudantes acampados na Praça da Paz Celestial. Naquela época, ganhou a linha dura; agora, caiu a estrela em ascensão da linha dura.

Nos blogues de esquerda, há um discurso de que ao resgatar o maoísmo Bo estava se insurgindo contra a expansão do capitalismo na China, contra as reformas necessárias para tornar o yuan moeda conversível, um grande passo na ascensão da China como potência capitalista dentro do que chamam de globalização neoliberal. É o debate interno do PC chinês vazando.

Nenhum país rico, nenhuma classe média ascendente que lutou para chegar onde está, está disposta a ser governada por mafiosos. Sem um mínimo de transparência e regras claras para ascensão ao poder e para as transições, a sociedade é refém dos nove imperadores que compõem o Comitê Permamente do Politburo. Até quando?

Sem democracia, será impossível libertar o potencial de criatividade de uma das culturas mais antigas da humanidade para que a China possa se desenvolver plenamente no século 21. O regime insiste em se perpetuar. Teme, acima de tudo, crises econômicas.

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