Com o fim do rigoroso inverno no Afeganistão, a milícia fundamentalista dos Talebã (Estudantes) lançou neste fim de semana sua ofensiva de primavera em uma série de ataques coordenados realizados por terroristas suicidas e atiradores na capital e em três províncias. Pelo menos 19 rebeldes foram mortos, informou o governo afegão.
Vinte e quatro horas depois do início dos combates, as autoridades anunciaram agora há pouco que a situação está sob controle. Oficialmente, só o Exército do Afeganistão enfrentou os Talebã, deixando as forcas internacionais lideradas pelos Estados Unidos num papel de aconselhamento e proteção de suas próprias instalações .
Em Cabul, os principais alvos eram as embaixadas dos EUA, do Reino Unido e da Alemanha, e o quartel-general da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Isso mostra a capacidade e a ousadia dos rebeldes.
A Guerra do Afeganistão já é a mais longa da história americana. Começou em 7 de outubro de 2001 para destruir as bases e os centros de treinamento da rede terrorista Al Caeda e derrubar o governo da milícia dos Talebã, que a acobertava. Mas, depois da Batalha de Tora Bora, em dezembro daquele ano, quando Ossama ben Laden e a liderança da Al Caeda fugiram para o Paquistão, o então presidente George W. Bush desviou a maior parte dos recursos para invadir o Iraque e derrubar Saddam Hussein.
Ao ordenar um reforço de tropas que elevou o contingente americano no Afeganistão para cerca de 100 mil soldados, o presidente Barack Obama pretendia reassumir o controle da situação, treinar o Exército afegão e forçar os Talebã ou pelo menos parte dos inimigos a negociar numa posição mais fraca, preparando assim a retirada dos EUA.
Apesar do primitivismo, inclusive militar, dos Talebã, eles têm o fervor ideológico e o apoio dos serviços secretos do Paquistão. Como os EUA e as outras potências ocidentais manifestaram claramente a intenção de sair do Afeganistão, quem vai ficar prepara-se para testar as forças de segurança treinadas pela OTAN para sustentar o governo atualmente presidido por Hamid Karzai, alvo de inúmeras denúncias da corrupção.
Como a maior parte do Exército do Paquistão se concentra na outra fronteira, com a Índia, inimiga histórica com que começou uma nova reaproximação, no Oeste, os serviços secretos paquistaneses usam a maioria pachtum dos dois lados de uma fronteira incerta traçada pelo Império Britânico, a Linha Durand, para criar uma zona de segurança povoada de extremistas muçulmanos.
Outros vizinhos poderosos como a Rússia e o Irã também tem interesses nesta encruzilhada do mundo antigo que se tornou um campo de batalha de interesses externos.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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