Nas ditaduras stalinistas, o governo costumava ganhar eleições com 99% dos votos. Atribui-se ao Camarada Stalin a frase: "Em eleições, o importante é o resultado, não a votação". No Iraque, Saddam Hussein chegou a 100%. Agora, a fraude é mais sofisticada para ganhar um verniz democrático.
"Em eleições fraudulentas, 65% é o novo 99%", argumenta Ali Ansari, professor de História do Irã na Universidade de Saint Andrew, em Edimburgo, na Escócia, comparando as eleições legislativas de 2 de março de 2012 no Irã com a eleição presidencial de 4 de março de 2012 na Rússia, na revista The World Today, publicada pelo Royal Institute of International Affairs, a Chatham House.
Ansari fez, em 2009, uma das mais completas análises dos dados da apuração da reeleição de Mahmoud Ahmadinejad para concluir que houve fraude, como agora, com percentuais parecidos.
Ahmadinejad tinha enfrentado o segundo turno na sua primeira e surpreendente eleição para presidente, em 2005. Um de seus adversários, Mehdi Karroubi, teve votação expressiva em 2005 e menos de 1% em 2009.
A apuração foi rápida e centralizada. Não houve fiscalização urna a urna como nos regimes democráticos. E o percentual de votos dos candidatos basicamente não se altertou ao longa da apuração, numa homogeneidade suspeita.
Não há uma prova material do delito, admitiu Ansari em 2009, porque não houve investigação dentro do Irã. Mas com base nos dados disponíveis, Ansari apontou a fraude, que agora se repete nas eleições parlamentares. Elas deveriam servir para desanuviar o ambiente político, carregado desde que a fraude levou o Movimento Verde às ruas para um confronto violento com a milícia Bassij, braço paramilitar da Guarda Revolucionária.
Com a verdadeira oposição esmagada, resta hoje uma oposição consentida e o regime veta as candidaturas supostamente antirrevolucionárias de milhares de pessoas. Isso garante antecipadamente um resultado e uma representação parlamentar dentro das expectativas da ditadura teocrática dos aiatolás.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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