terça-feira, 8 de maio de 2007

Ex-inimigos formam governo na Irlanda do Norte

Sem aperto de mãos, os quase ex-arquiinimigos Partido Unionista Democrático (PUD), protestante, e Sinn Féin, católico e ligado ao agora desarmado Exército Republicano Irlandês (IRA), acabam de formar um novo governo semi-autônomo da Irlanda do Norte, rompendo com anos de impasse. A decisão do IRA de entregar as armas, anunciada em 2005, foi decisiva.

O primeiro-ministro será o reverendo protestante Ian Paisley e seu vice, com poderes iguais, Martin McGuinness, ex-comandante militar do IRA.

A posse do goveno formado pelos ex-inimigos mais radicais marca o fim de 800 anos de conflito entre Inglaterra e Irlanda, e de uma guerra civil em que mais de 3,6 mil pessoas morreram desde 1969.

O acordo de paz foi firmado em 9 de abril de 1998. Para evitar o domínio da maioria protestante, favorável à união com a Grã-Bretanha no Reino Unido, sobre a minoria católica e republicana, a favor da unificação da Irlanda, há um poder de veto para quem conseguir 40% dos votos na Assembléia da Irlanda do Norte.

Desde então, diversas tentativas de formar um governo semi-autônomo de união fracassaram porque os protestantes insistiam no total desarmamento do IRA, finalmente anunciado em 2005, depois que o impacto dos atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos secou o financiamento que o grupo recebia de americanos de origem irlandesa.

Outro fator importante para a paz foi a integração européia, que promoveu o desenvolvimento da Irlanda, hoje o país com a maior renda per capita na União Européia depois de Luxemburgo, e a tornou uma aliada da Grã-Bretanha, ajudando-a a superar os ressentimentos históricos até evidentes na Irlanda do Norte.

O filme Ventos de Liberdade, de Ken Loach, que está em cartaz, conta a história da divisão do movimento nacionalista irlandês diante da proposta de paz oferecida pelos britânicos quando da independência da Irlanda em 1921. Desta vez, a História se repete.

Para a linha dura do IRA, entregar as armas antes do fim do domínio britânico e da unificação da irlanda equivalia a uma rendição. Felizmente agora os dois lados entenderam que a democracia é a melhor maneira de atingir seus objetivos políticos.

Os nacionalistas irlandeses continuam sonhando com a reunificação de sua pequena ilha. Mas sabem que isso só será possível quando seus antigos inimigos tiveram confiança de que não serão discriminados numa Irlanda unida.

A paz na Irlanda traz esperança de solução de outros conflitos. Um editorial do jornal libanês Daily Star argumenta que, se a paz é possível na Irlanda do Norte, é possível também no Oriente Médio.

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