O presidente Hugo Chávez e o rei Roberto Carlos têm algo em comum: ambos se consideram grandes democratas por causa de sua popularidade, mas gostam de censurar quem discorda deles.
Se a obsessão de Roberto Carlos parece mania de uma celebridade alienada do mundo real, e é acima de tudo um mau exemplo de desrespeito à liberdade, ao fechar a mais antiga e popular rede de televisão da Venezuela Chávez atropela um dos princípios básicos da democracia: a liberdade de expressão. Pode ser um tiro no pé.
Depois de vencer a eleição presidencial de 3 de dezembro de 2006 no primeiro turno com 61% dos votos, o caudilho venezuelano começou a revelar a verdadeira face de sua “revolução bolivarista” e do “socialismo do século 21”.
Nacionalizou as reservas de petróleo do delta do rio Orinoco, das maiores do mundo, o setor de energia elétrica e a principal companhia de telecomunicações. Ameaçou estatizar bancos e supermercados. E não renovou a concessão da Radio Caracas Televisión (RCTV), que estava no ar desde 1953, sob a alegação de que a emissora apoiou o golpe de abril de 2002, é “golpista” e “imperialista”.
Nos últimos dias, Chávez ameaçou a Globovisión, única rede de TV independente que resta na Venezuela, e até mesmo a TV americana CNN.
À meia-noite de domingo, 27 de abril, em Caracas, 1h em Brasília, a RCTV saiu do ar. Passara o dia inteiro com um programa ao vivo marcado por depoimentos e entrevistas contra o fechamento da emissora, encerrado com os funcionários cantando o Hino Nacional da Venezuela. Imediatamente, entrou no ar a Televisora Venezolana Social (Teves), mais um canal estatal com a mensagem do chavismo.
Com a riqueza do petróleo e o declínio terminal do presidente licenciado de Cuba, Fidel Castro, Chávez assume a liderança da esquerda radical na América Latina. Reafirma o papel predominante do Estado na economia venezuelana e investe pesadamente a renda do petróleo em programas sociais na busca de legitimidade para sua ideologia anti-americana, antiliberal e anticapitalista.
Chávez ganhou nove eleições desde 1998, quando a crise asiática reduzira o preço do barril de petróleo a cerca de US$ 10, arrasando a economia venezuelana. Com seu discurso anti-americano, tornou-se ídolo da esquerda radical que defende uma “democracia participativa”, com “conselhos populares” e mais decisões tomadas por plebiscito. Os conselhos bolivaristas espalham-se pela América e até mesmo pelo resto do mundo.
A maior ameaça é à democracia venezuelana. Chávez concentra cada vez mais poder. Ele ampliou o Tribunal Supremo de Justiça, nomeando aliados para as novas vagas. Diante do boicote da oposição, governa hoje com uma Assembléia Nacional 100% chavista. Interveio abertamente em eleições em outros países latino-americanos. E, como mostra o fechamento da TV mais popular da Venezuela, não tolera a crítica.
Leia a íntegra em minha coluna no Baguete.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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Um comentário:
Como uma amiga minha comentou no meu blog..
É incrível como os ditos governos socialistas acabaram em opressão, governos totalitários.
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