Mais de 40% da maior floresta tropical do planeta e a metade da Floresta Amazônica brasileira podem desaparecer até 2050, se for mantido o ritmo atual de ocupação do solo. Não basta a criação pelo governo de áreas de preservação ambiental porque, na maioria dos casos, a lei não é cumprida.
A conclusão é de um estudo de Britaldo Silveira Soares Filho, do Centro de Sensoriamento Remoto da Universidade Federal de Minas Gerais, e Daniel Nepstad, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia e do Centro de Pesquisas Woode Hole, nos Estados Unidos. Está sendo publicada hoje na mais prestigiada revista de divulgação científica, a britânica Nature.
Nas simulações feitas com um novo modelo computacional, se foram mantidas as atuais políticas públicas e atividades privadas, a floresta brasileira sofrerá uma redução drástica, de 5,4 milhões para 3,2 milhões de quilômetros quadrados. As causas são a expansão da fronteira agrícola, da exploração de madeira e da extração mineral.
O impacto ambiental de tremenda perda seria catastrófico, sobretudo para o aquecimento da Terra. A quantidade de mata perdida equivaleria a 32 milhões de toneladas de carbono ou quatro anos de emissões do mundo inteiro.
A alternativa é o que a pesquisa chama de “governança”. Ainda existe grande discussão em torno do conceito, que pode incluir certa ingerência internacional em nome da preservação de um “patrimônio da humanidade”.
Para Nepstad, é apenas a aplicação de políticas públicas, com respeito da reserva legal pelos agricultores, construção e pavimentação de novas rodovias com critérios ecológicos, e criação de novas unidades de conservação.
“Simplesmente implentando a lei ambiental seria possível evitar o desmatamento de 1 milhão de km2”, afirma Nepstad em entrevista à Folha de S. Paulo. “Todo o Protocolo de Quioto”, que visa a reduzir a emissão dos gases que provocam o efeito estufa, “prevê a redução de duas toneladas. Cumprindo a lei ambiental, evita a emissão de 17 bilhões. É uma oportunidade gigantesca para o Brasil”.
O pais poderia usar os serviços ambientais que sua natureza prodigiosa presta como instrumento de barganha em negociações internacionais. Mas para muita gente dentro do governo e na própria Amazônia, a floresta ainda é vista como símbolo de atraso e de subdesenvolvimento.
Se a sociedade internacional financiar a aplicação de políticas públicas em nome da governança global, certamente haverá ingerência. Isto provocará uma reação nacionalista, uma aliança de setores temerosos da internacionalização da Amazônia, hoje a maior ameaça ao pais na opinião da ala mais nacionalista das Forças Armadas, e das elites locais que se beneficiam com a ocupação da terra, a mineração e a exploração de madeira.
Em outro estudo, divulgado há quatro anos na revista Science, Nepstad alertava para o risco da queda da umidade relativa do ar na Amazônia. Como a camada fértil do solo é pequena, a floresta se auto-alimenta e se auto-regenera. Se a queda na umidade relativa do ar secar o mato baixo que cresce entre as árvores mais altas e frondosas, há sério risco de grandes queimadas.
Todo o ecossistema seria afetado.
A idéia aqui é que não basta preservar bolsões da Floresta Amazônica. Ela não manteria os níveis de precipitação e umidade relativa, tornando-se impossível preservá-la com sua exuberância atual.
4 comentários:
Qual a sua opinião sobre a interferência internacional? É positiva ou negativa?
É uma questão muito sensível. A pressão internacional é interessantes para neutralizar os agentes internos que não estão interessados na preservação. Mas a soberania e o direito à exploração dos recursos naturais são dos países da região. Podem barganhar em negociações internacionais sobre meio ambiente com base nos serviços ambientais que a floresta pega, por exemplo, absorvendo gás carbônico, que provoca o aquecimento da Terra. No mundo globalizado, os problemas ambientais têm caráter internacional e o mais grave no momento é o efeito estufa.
Nós, seres humanos, vamos destruir tudo.
Nosso histórico não nos recomenda muito.
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