A Rússia quer que o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), vencedor das eleições palestinas de 25 de fevereiro, renuncie à luta armada, reconheça Israel e se transforme num partido político comum.
Na chegada a Moscou, a convite do presidente russo, Vladimir Putin, o líder do Hamas, Khaled Mechal, declarou que a coexistência pacífica depende da retirada de Israel para as fronteiras anteriores à guerra de 1967. O Hamas exige o fim da ocupação da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, o direito de retorno dos refugiados desde a criação de Israel, em 1948, a derrubada do muro construído pelo governo israelense na Cisjordânia e a libertação de todos os presos.
O líder do Hamas não manifestou a menor intenção de fazer concessões a Israel, que protestou contra a visita por considerar oficialmente o Hamas como uma "organização terrorista". Acusou o Estado judaico de “continuar sua agressão” e disse que “a bola está no campo israelense”. Mas prometeu manter o cessar-fogo, se Israel não atacar.
Mechal foi recebido pelo ministro do Exterior da Rússia, Serguei Lavrov, que comentou: “O Hamas não terá futuro, a não ser que mude e se transforme num partido político”, acrescentando que é fundamental integrar a estrutura militar do Hamas, as Brigadas al Kassem, como parte legítima das forças de segurança da Autoridade Nacional Palestina.
A visita é uma tentativa do presidente Putin de recolocar a Rússia no xadrez político do Oriente Médio. Durante a Guerra Fria, a partir de 1967 os EUA passaram a apoiar Israel incondicionalmente, enquanto os árabes, sob a liderança do então presidente egípcio Gamal Abdel Nasser, eram apoiados pela União Soviética.
Na Guerra do Yom Kippur (1973), a maior ofensiva militar árabe da era moderna, terminou com o Exército do Egito encurralado no Sinai. A URSS entrou em alerta nuclear. Mas quatro anos depois, o presidente Anuar Sadat, sucessor de Nasser, sentindo que não poderia recuperar a Península do Sinai, ocupada por Israel em 1967, pela força das armas, e passou para a órbita dos EUA.
Em 1977, Sadat visitou Israel. Os dois países negociaram então os acordos de Camp David, nos EUA, sob o patrocínio do governo Jimmy Carter, em 1979. Foi o primeiro tratado de paz entre Israel e um pais árabe.
Ao perder o Egito, a URSS deixou de ser uma superpotência no Oriente Médio. Putin, interessado em recuperar a glória do passado imperial russo e soviético, quer disputar o jogo geopolítico em todos os tabuleiros. A Rússia ofereceu-se para enriquecer urânio para o Irã, o que impediria este país de fabricar armas nucleares. Agora tenta atrair o Hamas com seu apoio diplomático.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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