O Exército de Israel atacou na terça-feira, 14 de março, uma prisão em Jericó, cidade da Cisjordânia sob o controle da Autoridade Nacional Palestina. Diversos presos foram levados pelos israelenses, entre eles um suspeito do assassinato de um ministro de Israel.
A operação militar provocou uma onda de violência contra Israel e seus aliados ocidentais. Monitores internacionais americanos e britânicos deram passagem às tropas israelenses. O presidente palestino, Mahmoud Abbas, condenou o ataque e interrompeu uma viagem à Europa para voltar para casa. Ele falaria hoje no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, na França, seguindo depois para Paris e Bruxelas, na Bélgica, onde fica a sede da União Européia (UE).
Um porta-voz do Ministério do Exterior de Israel afirmou que a operação foi necessária porque diversos presos seriam soltos pelo futuro governo palestino que está sendo articulado pelo Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), principal partido fundamentalista palestino.
Israel, os Estados Unidos e a UE consideram o Hamas um grupo terrorista. Exigem que abandone a luta armada e que reconheça o Estado de Israel. O Hamas diz que só fará isto se Israel se retirar dos territórios ocupados na Guerra dos Seis Dias, em 1967.
Entre os presos seqüestrados por Israel, está Ahmed Sadaat, líder da Frente Popular pela Libertação da Palestina, acusado da morte do ministro do Turismo israelense Rehavam Zevi há cinco anos. A FPLP prometeu retaliar. Todas as facções palestinas convocaram uma greve geral para esta quarta-feira, 15 de março.
Na reação violenta ao ataque, jovens palestinos seqüestraram pelo menos oito estrangeiros e incendiaram a sede do Conselho Britânico na cidade de Gaza.
A UE condenou as ações tanto de Israel quanto dos palestinos e ameaçou cortar a ajuda financeira aos palestinos, de cerca de US$ 340 milhões por ano, se não cessar a violência contra cidadãos e propriedades européias. Esta ajuda já estava ameaçada porque o Hamas é considerado terrorista.
O assalto à prisão de Jericó é uma amostra inquietante do que será o relacionamento de Israel com um governo liderado pelo Hamas, que obteve 74 das 132 cadeiras do Conselho Nacional Palestino. Com sua exigência de retirada total de Israel para as fronteiras anteriores à guerra de 1967, os fundamentalistas mantêm uma posição linha-dura. Não dão o passo inicial rumo ao diálogo.
Como Israel ameaçou matar os líderes do Hamas, inclusive o primeiro-ministro designado Ismail Haniya, visto como um moderado no movimento, há um endurecimento de posições dos dois lados do conflito.
A poucos dias das eleições de 28 de março, é natural que o primeiro-ministro interino Ehud Olmert queira reafirmar suas credenciais como comandante supremo diante das acusações do candidato da direita. O ex-primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, líder do partido Likud, acusa Olmert de abandonar a Cisjordânia porque o governo tem um plano para retirada unilateral até 2010, se não houver um acordo de paz com os palestinos até lá.
Com a radicalização de posições, não se deve esperar um grande avanço rumo ao dialogo depois das eleições do dia 28 de março em Israel. Pelo menos estará definido quem representa cada lado nesta guerra.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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