Quando escreveu O Desafio Americano na década de 60, o francês Jean-Jacques Servan Schreiber afirmou que as três maiores potências mundiais eram os Estados Unidos, a União Soviética e a General Motors. A maior fábrica de automóveis do mundo seria mais poderosa do que todos os outros países. Agora a empresa é símbolo do declínio relativo dos EUA no setor industrial.
Hoje a GM admitiu que, “por erro contábil”, escondeu um prejuízo de US$ 2 bilhões no balanço do ano passado. A companhia perdeu US$ 10,6 bilhões em 2005 e não US$ 8,6 bilhões, como anunciara antes. Prometeu ainda revisar seus números desde 2000, quando assumiu o atual presidente da empresa, Richard Wagoner, cuja cabeça está a prêmio. Desde então, as ações da companhia caíram 60%; só hoje, caíram 5%.
Megaempresa, a GM enfrenta problemas com seu gigantismo, seus enormes custos e sua participação em queda no mercado americano, enquanto a arquirrival Toyota, do Japão, prepara-se para ser a maior fabricante de carros do mundo. Suas ações são considerados “papéis podres” pelas agências de classificação de risco mas o interesse do megainvestidor Kirk Kerkorian elevou a expectativa de que a GM ainda tenha algo a oferecer.
Kerkorian já perdeu uma fortuna com a GM. Suas ações estão em torno de US$ 21,00 mas Ronald Tadross, analista do Bank of América acredita que elas devem cair para US$ 10 porque “os gestores da empresa continuam açucarando o problema”.
A empresa está negociando com os sindicatos da Delphi, um fabricante de autopeças ligada à GM que está à beira da falência, com prejuízos estimados entre US$ 5,5 bilhões e US$ 12 bilhões, e cujos funcionários ameaçam entrar em greve. Isto poderia abalar todo o setor automotivo nos EUA, onde as duas gigantes, a GM e a Ford, lutam com dificuldade, enquanto outras empresas como a Toyota continuam operando com sucesso.
Depois do fechamento da Bolsa de Valores de Nova Iorque, a GM reuniu a diretoria e comentou-se que a empresa estaria perto de um acordo com os sindicatos e a Delphi para que dezenas de milhares de trabalhadores se aposentem ou peçam demissão voluntariamente. Esta é considerada a melhor saída para evitar um pedido de concordata.
Para quem ainda acredita em hegemonia americana, é mais um sinal de que a hegemonia econômica está em evidente declínio.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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