Em nome da segurança nacional, o Congresso dos Estados Unidos rejeita uma empresa árabe para administrar seis importantes portos americanos. A França cria medidas para impedir tentativas de compra hostil mesmo dentro do mercado único europeu. No mundo inteiro, erguem-se barreiras e adotam-se salvaguardas contra as importações da China e a ascensão da Índia já começa a assustar.
Há uma nova onda de protecionismo, sobretudo na Europa e nos EUA. A rejeição da Dubai Ports World, em nome do risco de terrorismo associado aos árabes nos EUA desde 11 de setembro de 2001, chegou a ser qualificada de racista. E o chamado “patriotismo econômico”, expressão usada pelo primeiro-ministro francês, Dominique de Villepin, pode reduzir ainda mais a competitividade européia, adverte Dominique Moisi, do Instituto de Relações Internacionais da França, em artigo para o Financial Times, principal jornal europeu de economia e negócios.
O ministro das Finanças da França, Thierry Breton, defendeu a fusão das empresas Gaz de France e Suez sob o argumento de que faz sentido criar gigantes “num mundo onde combustíveis fósseis são cada vez mais raros e só o tamanho importa”. Mas se a lógica do mercado deve prevalecer, contra-argumenta Moisi, também fazem sentido as ofertas da italiana Enel pela Suez e da siderúrgica Mittal pela Arcelor. Como criar uma “Europa da energia” e ao mesmo tempo proteger as “jóias da família”?
Moisi aponta três fatores para explicar o neoprotecionismo francês, que tenta proteger o pais da própria União Européia, minando o mercado único europeu.
Primeiro, o que os ingleses chamam de “rede de velhos amigos”. A maioria dos executivos franceses estudou nas mesmas escolas de elite, começou suas carreiras no serviço e assim sabe articular suas estratégias com as mais altas autoridades da nação.
Segundo, para a maioria da elite francesa, resistir a indianos ou italianos é fazer a coisa certa, sintoma do complexo de superioridade francês. “Na França, o papel central do Estado na economia não é visto como anacronismo mas como uma aplicação da lei da vantagem comparativa de Adam Smith. A França tem um Estado forte, comparao com a maioria dos países europeus, então por que não usar o Estado a serviço dos interesses econômicos?”, pondera o analista internacional.
Terceiro, numa manobra oportunista, o governo francês aproveitou a tentativa de compra hostil da Suez pela Enel para privatizar a GdF. O sindicato protestou porque tanto faz ser demitido por uma empresa nacional ou européia. Mas a lógica é do patriotismo econômico, observa Moisi: “Em outras palavras, podem ser feitos sacrifícios em nome da França mas não mais da Europa”.
O articulista alerta que esta atitude contribui para “desmontar” a construção da Europa unida, principal instrumento da França para aumentar seu poder de barganha no mundo globalizad. Por sua oposição tenaz à invasão do Iraque pelos EUA e sua resistência contra a onda liberal trazida pela globalização, a França é hoje mais popular entre os países em desenvolvimento do que na Europa, onde está se isolando, se não se auto-isolando.
O problema é que a globalização avança, impulsionada pelo desenvolvimento das tecnologias de comunicações e de transporte, e pela lógica inexorável do mercado. Enquanto a Ásia cresce em ritmo acelerado, aproveitando as oportunidades que a economia internacional oferece, aumenta o risco de decadência do Ocidente.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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