Mais de 400 mil manifestantes protestaram em diversas cidades da França nesta terça-feira, 7 de março, contra a nova lei do primeiro emprego, que permite demitir trabalhadores jovens sem justa causa nos dois primeiros anos de contrato. Só em Paris, foram 200 mil pessoas.
O objetivo do governo direitista do primeiro-ministro Dominique de Villepin é combater o desemprego entre os jovens, que chega a 25% e a 40% para jovens de origem estrangeira. A revolta da periferia, que incendiou os subúrbios pobres de Paris em novembro do ano passado, despertou o governo para a necessidade de aumentar a oferta de emprego entre os jovens.
Só que mais de 100 sindicatos vê na nova lei mais uma maneira de reduzir direitos trabalhistas. Os empregadores poderiam contratar mais jovens para substituir trabalhadores mais experientes, estendendo a precarização a uma parcela maior dos assalariados franceses.
A França é um país militante onde os sindicatos promovem greves nacionais e os agricultores bloqueiam as estradas para impedir o corte dos subsídios agrícolas. Mas o déficit comercial francês foi recorde em 2005: 26,4 milhões de euros. O país exportou dez vezes menos do que a vizinha e aliada Alemanha, maior exportador mundial.
Este é um sintoma de que a economia francesa sofre de uma doença estrutural. Tem problemas para conciliar o elevado grau de proteção garantido pela economia social de mercado e competir no mundo globalizado. Não é à toa que a França está na vanguarda do movimento antiglobalização, associada pela esquerda francesa ao neoliberalismo.
Mas a globalização é muito mais do que a liberalização econômica promovida sobretudo pelos governos de Ronald Reagan, nos Estados Unidos, e de Margaret Thatcher, na Grã-Bretanha, nos anos 80. É resultado do desenvolvimento das tecnologias de comunicação de transporte. Neste sentido, é irreversível.
Karl Marx, talvez o primeiro teórico da globalização, entendeu que o capitalismo se expandiria até atingir a todos os recantos da Terra. Isto é a globalização ou mundialização, como preferem os francófonos.
A luta do movimento antiglobalização é sobretudo uma luta para democratizar a sociedade internacional, numa era em que as grandes decisões econômicas são tomadas em escala planetária. A União Européia é uma das estruturas supranacionais com que a França conta para manter uma posição de destaque no mundo globalizado. Mas o pais perderá importância econômica e política se sua economia decair.
A decisão recente do governo de tomar medidas para impedir tentativas de compra hostis de empresas francesas, contrariando a legislação européia revela a insegurança do país diante dos desafios da nova economia, onde china e Índia, cada uma com mais de 1 bilhão de habitantes, tem centenas de milhões de candidatos a emprego querendo trabalhar por salários muito inferiores aos franceses, mesmo do primeiro emprego.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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Um comentário:
É estranho que Dominique de Villepin tenha agido somente pensando nos 40% de desempregados estrangeiros e 25% nativos, como resposta aos eventos de novembro, enfrentando tantos sindicatos com as medidas.
Parece inconsistente como medida de uma reforma estrutural.
Muito bom este blog!
Vida longa ao Vida Global!
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