O novo presidente da Bolívia, o líder indígena Evo Morales, acusou os Estados Unidos de chantagem pela retirada de parte da ajuda militar de US$ 300 mil para o combate ao terrorismo. Aparentemente os americanos não aceitaram o nome indicado pelo presidente boliviano para comandar a Força de Luta Conjunta contra o Terrorismo. Morales convocou uma Assembléia Constituinte, dando início à série de reformas que pretende fazer para desenvolver o país mais pobre da América do Sul.
Na festa do 21% aniversário da cidade de El Alto, onde fica o aeroporto de La Paz, palco de grandes manifestações e bloqueios de estradas que derrubaram dois presidentes, Morales declarou que o tempo dos vetos e de mudança de autoridades por imposição de governos estrangeiros: “Embora pobres, somos dignos e vamos defender a dignidade e a soberania nacional.”
E acrescentou: Não é possível que venham forças externas nos intimidar, amedrontar ou pressionar para mudar comandantes. Isso de mudar comandantes e ministros acabou. Nenhum comandante será mudado a pedido das Forças Armadas dos EUA”.
Morales chamou de “migalha” os US$ 300 mil do programa e “são recursos para controlar a Bolívia, para ter aqui agentes de inteligência”.
O presidente boliviano voltou ao trabalho nesta semana, depois de uma pausa para festejar o carnaval em Cochabamba, com o argumento de que “as autoridades têm o direito de se divertir para trabalhar melhor pelo país.”
Na segunda-feira, promulgou duas leis, convocando uma Assembléia Constituinte de 255 deputados a ser eleita em 2 de julho e introduzindo os referendos sobre autonomia regional, que ameaçam dar semi-autonomia aos departamentos mais ricos do Sul e do Oeste, em detrimento da região andina, mais pobre.
Será a segunda Constituinte da História da Bolívia. A primeira reuniu-se em agosto de 1825, após a vitória final na luta pela independência contra os espanhóis na Batalha de Ayacucho, em 9 de dezembro de 1824. Será a primeira com um líder indígena no comando do país.
Como observou o pensador e ex-ministro do Exterior do México Jorge Castañeda, não é o primeiro presidente indígena do continente. O primeiro foi o zapoteca e mexicano Benito Juarez, de 1861-63 e 1867-71. E a Bolívia e a Guatemala, os dois países de maioria indígena do continente, não são propriamente América Latina. O adjetivo latina pressupõe uma população e uma cultura transplantadas da Europa.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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