O presidente americano Ronald Reagan considerava seu secretário de Estado "totalmente paranóico", o ex-senador Lowell Weicker "um idiota pomposo" e o presidente egípcio Anuar Sadat "um verdadeiro grande homem".
Ficou surpreso com a timidez do popstar Michael Jackson.
Tinha problemas com os filhos, sentia-se sozinho quando estava longe da mulher, Nancy, e registrou seus oito anos na Casa Branca (1981-89) num diário. Seus cinco volumes pertencem à Biblioteca Ronald Reagan, em Simi Valley, na Califórnia. Foram entregues ao historiador Douglas Brinkley para serem transformados em livro.
Em junho, a revista americana Vanity Fair publica os primeiros trechos de Os Diários de Reagan, que será lançado pela editora HarperCollins. Ali estão algumas reflexões na intimidade de um dos homens mais poderosos do mundo.
Quando o secretário de Estado Alexander Haig deixou o cargo em 1982 dizendo que tinham desentendimentos em política externa, a reação do presidente foi direta: "Na verdade, o único desentendimento foi sobre quem fazia a política, o secretário de Estado ou eu".
Fidel Castro não escapou do diálogo interior de Ronnie, que, apesar de todo o seu poder, sentia-se impotente diante do líder cubano: "Relatórios do serviço secreto dizem que Castro está muito preocupado comigo. Estou muito preocupado que eu não possa fazer algo que justifique suas preocupações".
No seu duelo de conservador contra a imprensa liberal americana, Reagan sabia que nada seria perdoado. Quando inverteu algumas frases do seu discurso na abertura da Olimpíada de Los Angeles, em 1984, imaginou que "a imprensa, tendo uma cópia escrita, vai alegremente me acusar de senilidade e incapacidade de decorar meu texto".
Outro comentário interessante foi feito quando o ex-chefe da Casa Civil Donald Regan descobriu que Nancy tinha consultado um astrólogo a respeito das viagens do presidente. Reagan negou qualquer influência dos astros: "A imprensa agora tem uma novidade graças ao livro de Donald Reagan. Não tomamos decisões com base em consulta a astrólogos. A mídia se comporta como crianças com um brinquendo novo - tanto faz que não tenha nenhuma verdade nisso".
Em 30 de março de 1981, no início de seu primeiro governo, Reagan foi baleado por John Hinckley: "Entrei na sala de emergêrcia e me colocaram em cima de uma maca onde tiraram minha roupa. Foi aí que fiquei sabendo que tinha sido baleado e que tinha uma bala no pulmão".
"Ser baleado dói."
Ao negociar seu primeiro corte de impostos com o Congresso de maioria democrata, ficou surpreso com as reduções nas alíquotas para os ricos que a oposição aceitou.
Bob Woodward, um dos jornalistas que derrubaram o presidente Richard Nixon (1969-74) com o Escândalo de Watergate, não escapou da caneta feroz de Ronnie, quando publicou uma entrevista com o ex-diretor da CIA (Agência Central de Inteligência) William Casey feita no hospital pouco antes de sua morte: "É um mentiroso e mentiu sobre o que Casey pensava de mim".
Na Guerra Fria, até mesmo Reagan foi acusado de ceder diante da União Soviética, quando o Kremlin acusou o jornalista Nicholas Daniloff de espionagem: "A imprensa está obcecada com o caso Daniloff e determinada a nos pintar como se estivéssemos cedendo aos soviéticos, e diz, é claro, que é a pior maneira de negociar com eles. A verdade é que não propusemos nenhum acordo e que estamos jogando duro todo o tempo".
Em 1986, Reagan não sabia que o coronel Oliver North, com aquiescência do assessor de Segurança Nacional, John Poindexter, está desviando o dinheiro da venda ilegal de armas para o Irã para a ajuda também ilegal aos contra-revolucionários da Nicarágua: "North não me contou isso. Pior ainda, John descobriu e não me contou. Isto pode provocar demissões".
Com a sedução que a monarquia britânica exerce hoje sobre os americanos, Reagan gostou de receber o "muito agradável" príncipe Charles, mas não se perdoou porque o cerimonial da Casa Branca serviu chá em saquinho, que foi rejeitado por Sua Alteza.
Uma grande preocupação era com o filho: "Ron quer dispensar o serviço secreto por um mês. O serviço secreto sabe que ele é um alvo - mora numa área de Nova Iorque onde há um grupo terrorista porto-riquenho. De fato, ele está numa lista de alvos. Ele diz que estamos interferindo na sua privacidade. Não posso fazê-lo entender que não estou em posição de ter de pagar resgate."
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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