Há três meses, os Estados Unidos convenceram o Conselho de Segurança das Nações Unidas a impor sanções contra a Coréia do Norte por causa de seu programa nuclear. Mas permitiram que as restrições fossem violadas para que a Etiópia recebesse armas norte-coreanas, em janeiro, porque a Etiópia está combatendo fundamentalistas muçulmanos na Somália, com o apoio dos EUA.
É mais uma contradição da política externa do governo George Walker Bush, observa neste domingo o jornal mais influente dos EUA, The New York Times.
Por um lado, o combate ao terrorismo dos fundamentalistas muçulmanos é prioridade absoluta. Do outro, há uma tentativa de sufocar economicamente o regime stalinista norte-coreano e conter a proliferação nuclear, mandando um sinal a outros países tentados a desenvolver armas atômicas.
A Coréia do Norte fez um teste nuclear em 9 de outubro do ano passado. Ainda em outubro, a ONU impôs sanções ao governo comunista de Pionguiangue. Imediatamente, o governo da Etiópia, que durante a Guerra Fria era cliente da União Soviética, alertou a embaixada americana em Adis Abeba que não poderia mudar de fornecedor de armas de um dia para o outro.
Mais uma vez, a política externa dos EUA ignora os princípios e atitudes que tenta impor a outros países, mostrando uma duplicidade de padrões. Como punir outros países que comprem armas da Coréia do Norte, se a Etiópia pode, especialmente porque está atacando fundamentalistas muçulmanos na vizinha Somália, com apoio e às vezes até cobertura aérea dos EUA?
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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