Os maiores aliados do primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair, decidiram ontem apoiar o ministro das Finanças, Gordon Brown, como sucessor de Blair, para garantir a unidade do Partido Trabalhista britânico. Blair pode anunciar amanhã sua decisão de deixar a liderança do partido e a chefia de governo para não prejudicar ainda mais o partido nas eleições municipais desta quinta-feira.
Inicialmente a expectativa era que Blair anunciasse a decisão de deixar o cargo em 4 de maio, um dia depois das eleições. Fala-se também em 10 de maio. Mas ele pode aproveitar o dia 1º de maio, quando fará 10 anos de sua primeira vitória, que pôs fim a 18 anos de governos conservadores. Amenizaria um pouco sua saída de cena melancólica, desgastado pela Guerra no Iraque e o apoio incondicional ao presidente americano, George W. Bush, se os trabalhistas não forem tão mal nas eleições municipais.
Diante da derrota iminente, os blairistas resolveram fazer uma frente unida de apoio a Brown. No regime político do Reino Unido, como os trabalhistas são maioria na Câmara dos Comuns do Parlamento Britânico, seu líder será automaticamente também o primeiro-ministro.
Um dos possíveis rivais na disputa pela liderança trabalhista, o ministro do Interior, John Reid, afastou a possibilidade de uma disputa interna: "Prevejo a unidade do partido nesta eleição e depois dela. Em vez da divisão do trabalhismo, veremos a unidade da liderança trabalhista além desta eleição".
O nome mais forte da nova geração do blairismo é o ministro do Meio Ambiente, David Miliband, que anunciou na semana passada que não seria candidato à liderança do partido, o que na prática representou o endosso definitivo a Brown.
Outra integrante da chamada "guarda pretoriana do blairismo", é a ministra da Cultura, Tessa Jowell. Está convencida de que Brown será o novo chefe e não quer perder o emprego.
A ministra da Saúde, Patricia Hewitt, assumiu a incômoda e impopular tarefa de reformar o Serviço Nacional de Saúde, e o entrega a Brown em boa situação financeira, candidatando-se a permanecer no cargo.
Eles estariam tentando convencer o ex-ministro do Interior Charles Clarke a não lançar um desafio a Brown.
Em entrevista à televisão privada ITV, o líder conservador, David Cameron, cujo partido lidera as pesquisas com 40% contra 29% para os trabalhistas, pediu a convocação de eleições gerais antecipadas. Brown alegou que os conservadores não fizeram o mesmo pedido quando John Major sucedeu Margaret Thatcher, em novembro de 1990.
Para marcar diferença em relação a Blair na luta contra o terrorismo, Brown defendeu "uma Guerra Fria cultural" para conquistar "corações e mentes" de muçulmanos moderados, na Grã-Bretanha e no exterior: "Nossa resposta não deve ser muito diferentes da Guerra Fria cultural contra o comunismo nos anos 40, 50 e 60, usando o poder dos argumentos e da persuasão para conquistar corações e mentes, sustentando o que fazemos com segurança, inteligência e os militares", disse o futuro líder numa reunião com os Trabalhistas Amigos de Israel.
"Penso que nos próximos anos talvez tenhamos de lidar com o extremismo de novas maneira", disse Brown à ITV. "Não é simplesmente um problema militar, de segurança e de inteligência. Teremos de ganhar a batalha por corações e mentes, e teremos de ganhar ao redor do mundo. Precisamos ver as causas subjacentes do conflito. Temos de separar e isolar os extremistas dos moderados".
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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