Pela primeira vez desde a Quarta-Feira Negra, 16 de setembro de 1992, quando George Soros e outros especuladores forçaram a saída da moeda britânica do mecanismo integrado de câmbio do Sistema Monetário Europeu, a libra esterlina atingiu ontem a cotação de US$ 2.
A alta foi atribuída à queda do dólar no mundo inteiro e à expectativa de aumento dos juros pelo Comitê de Política Monetária do Banco da Inglaterra. A inflação no Reino Unido chegou a 3,1% ao ano, bem acima da meta de 2% fixada pelo ministro das Finanças, Gordon Brown, provável sucessor do primeiro-ministro Tony Blair, que deve anunciar sua saída em 4 de maio, depois de 10 anos na chefia do governo.
Como o Reino Unido já tem, ao lado dos EUA, a mais alta taxa de juros do mundo desenvolvido, 5,25% ao ano, a expectativa de alta reforça a libra. O euro também subiu em relação ao dólar, chegando a US$ 1,357.
Em 1992, os especuladores atacaram a libra porque a taxa de juros britânica era menor do que a alemã, elevada por causa dos desequilíbrios provocados pela reunificação da Alemanha.
Com a taxa de juros do Bundesbank acima de 9% e a do Banco da Inglaterra em torno de 6%, apesar da inflação britânica ser muito maior, os especuladores começaram a tomar dinheiro emprestado em libras e comprar marcos alemães, já que a taxa de juros do marco era maior. Esse movimento derrubava a cotação da libra, tornando necessário gastar menos marcos para pagar a dívida.
Soros apostou US$ 10 bilhões e teria ganho US$ 1,1 bilhão no final do dia. Depois de aumentar a taxa de juros para 15%, o ministro das Finanças, Norman Lamont, anunciou às 19h em Londres que a libra deixava o mecanismo integrado de câmbio e que a taxa de juros seria de 12% ao ano.
Com a desvalorização da libra, a economia da Grã-Bretanha iniciou um ciclo de crescimento que se prolonga até hoje.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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