A convicção de que o Irã está desenvolvendo armas nucleares está deflagrando uma corrida armamentista no Oriente Médio, afirma hoje o jornal The New York Times.
O Egito, a Arábia Saudita e a Turquia, que disputam a liderança regional no Oriente Médio com o Irã, estariam se preparando para fazer suas próprias armas atômicas.
Há dois anos, a Arábia Saudita declarou à Agência Internacional de Energia Atômica que não via necessidade de desenvolver tecnologia nuclear. Agora, está procurando ativamente no mercado equipamentos e profissionais para instalar uma rede de reatores, diz a reportagem. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, sequioso para restaurar o status de potência mundial de seu país, já ofereceu cooperação nuclear aos sauditas.
A Turquia vai construir sua primeira usina nuclear, e o Egito revelou planos para ter a sua, na costa do Mar Mediterrâneo.
"A regra do jogo mudou", observou o rei Abdullah II, de Jordânia, ao jornal liberal isralense Haaretz. "Todo o mundo está fazendo seu programa nuclear."
Embora a maioria diga que quer apenas energia atômica para fins pacíficos, os Estados Unidos, que vêem no terrorismo nuclear a maior ameaça à sua segurança, entendem que é uma corrida armamentista para contrabalançar o programa nuclear do Irã.
Além de xiita, o Irã é persa. Isso só ajuda a acirrar a rivalidade com os países árabes do Oriente Médio de maioria sunita, ou seja, todos, menos o Iraque. O governo George W. Bush teme o desenvolvimento de uma "bomba sunita", que talvez pudesse ser feita com a colaboração do Paquistão, único país muçulmano com armas atômicas.
"Agora é a hora de se preocupar", adverte Geoffrey Kemp, do Centro Nixon, em Washington. "Os iranianos também devem se preocupar. É tolice imaginar que emergirão como potência regional hegemônica. Haverá uma forte reação contrária, certamente com armas convencionais e também examinando a opção nuclear."
A ameaça da bomba na política regional do Oriente Médio se manifesta pela primeira em 1960, quando revelou-se que Israel estava comprando um reator nuclear. O Egito prometeu fazer o mesmo mas não conseguiu, por problemas técnicos e políticos.
Uma segunda ameaça veio do Iraque. Em junho de 1981, um bombardeio aéreo de Israel destruiu a usina nuclear iraquiana de Osirek, com o apoio dos Estados Unidos, no início do governo Ronald Reagan (1981-89).
O Irã, que estava em guerra com o Iraque desde 22 de setembro de 1980, quando atacado por ordem de Saddam Hussein, começou a examinar a opção nuclear. Mas o aiatolá Ruhollah Khomeini, líder espiritual da revolução islâmica no Irã, era contra a bomba atômica. Considerava-a uma arma antimuçulmana por matar civis inocentes.
Durante a chamada "guerra das cidades", marcada por bombardeio intenso das cidades inimigas de ambos os lados, em 1987, Khomeini teria autorizado o início do programa nuclear iraniano. Só em 2003 o programa foi revelado.
Hoje os especialistas estimam que o Irã necessite de dois a dez anos para fazer uma bomba atômica.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário