Às vésperas do 25º quinto aniversário da invasão das Ilhas Malvinas, a Argentina anunciou que empresas que operam nas ilhas serão proibidas de atuar no continente. Uma das empresas que podem ser atingidas é a transnacional petrolífera anglo-holandesa Shell.
O governo britânico reagiu dizendo que a decisão é arbitrária e não ajuda em nada a reclamação argentina de soberania sobre as ilhas, ocupadas pela Grã-Bretanha em 1833. Em 2 de abril de 1982, durante a última ditadura militar argentina, as Malvinas, que os britânicos chamam de Falklands, foram invadidas, assim como as ilhas Sanduíche e as Geórgias do Sul, outras possessões britânicas.
Apesar da condenação internacional, com exceção da América Latina, a Argentina não recuou. A primeira-ministra Margaret Thatcher enviou, então, uma força tarefa para retomar as ilhas. Depois de uma série de batalhas aeronavais, os britânicos chegaram às ilhas em 21 de maio de 1982, e os argentinos renderam-se em 14 de julho.
Ao todo, 649 argentinos e 258 britânicos foram mortos.
Na verdade, a decisão de tomar as ilhas parece ter sido tomada como resultado de um golpe dentro do golpe na sangrenta ditadura militar argentina de 1976-83, acusada por 30 mil mortes.
Havia uma negociação em curso para devolução das Malvinas, a exemplo do que aconteceu com Hong Kong. O governo Thatcher chegou a um acordo com o regime comunista chinês, em 1984, e a última jóia do Império Britânico foi devolvida à China em 2 de julho de 1997. Mas os britânicos não entregariam as ilhas a uma ditadura sanguinária.
Para derrubar o general-presidente Roberto Viola, o comandante do Exército, general Leopoldo Galtieri, teria feito uma aliança com a poderosa Marinha argentina, comprometendo-se a reconquistar as Malvinas.
De um dia para o outro, o odiado regime militar tornou-se popular. Os argentinos foram para a Praça de Maio festejar a retomada das ilhas diante da Casa Rosada, a sede de governo, ocupada por um ditador sanguinário e irresponsável, um delinqüente que chegou a acreditar nas suas próprias ilusões, dizendo que "os ingleses não brigar por umas ilhotas".
Mas uma potência mundial não pode ceder à chantagem de um governo criminoso. Seria uma desmoralização. No final, a humilhada ditadura militar argentina acabou caindo. Logo a junta militar foi substituída pelo general Reinaldo Bignone, que convocou eleições presidenciais diretas para 1983, vencidas por Raúl Alfonsín (1983-89).
Ao desmoralizar a ditadura argentina, a Guerra das Malvinas foi um marco na redemocratização da América Latina. Os argentinos mantêm sua reivindicação de soberania sobre as ilhas. Como no caso de Gibraltar, reclamado pela Espanha, o governo britânico insiste em que qualquer solução depende da concordância democrática das moradores.
Os cerca de 3 mil habitantes das Malvinas podem ser reassentados no Reino Unido. Jamais concordarão em ser governados pela Argentina.
Durante a guerra, o Brasil apoiou a reivindicação argentina mas rejeitou o uso da força. Chegou a intermediar as negociações. Ajudou a Argentina mas permitiu pousos de reabastecimento de aviões britânicos a caminho das ilhas. Hoje os historiadores entendem que a posição brasileira reforçou os laços com o vizinho, abrindo caminho para a integração econômica do Cone Sul da América Latina após a queda das ditaduras militares nos dois países.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
domingo, 1 de abril de 2007
Argentina veta empresas que operam nas Malvinas
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