Diante da ameaça de sanções do Conselho de Segurança das Nações Unidas, o Irã reiniciou ontem as negociações com a Rússia, que se oferecera para enriquecer urânio em seu território para uso nas usinas nucleares iranianas. O Irã condiciona qualquer avanço à retirada do caso do Conselho de Segurança e sua devolução para a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
"Não aceitaremos nenhuma resolução imposta pela força", declarou o principal negociador iraniano, Ali Larijani, enquanto o porta-voz do ministro do Exterior, Hamid Reza Assefi, comentava que "a proposta russa continua sobre a mesa" ao mesmo tempo em que insistia em que "o enriquecimento de urânio já começou, vai continuar e é irreversível".
No dia 11 de abril, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, anunciou oficialmete que o país enriquecera urânio a 3,5%, teor que permite usá-lo como combustível em usinas nucleares para produção de energia.
Os Estados Unidos e a Europa alegam que o Irã, que tem a quarta maior reserva mundial de petróleo não precisa de energi atômica. Entendem que o objetivo do programa nuclear iraniano é fabricar bombas atômicas.
Sob pressão do Ocidente, o caso foi remetido ao Conselho de Segurança, que deu prazo até 28 de abril para o Irã suspender o enriquecimento de urânio. A república islâmica insiste em que tem o direito de desenvolver seu programa nuclear.
Amanhã as cinco potências com poder de veto no Conselho de Segurança (EUA, China, França, Grã-Bretanha e Rússia) reúnem-se em Paris para decidir que passo adotar. A Rússia e a China resistem à aplicação de sanções. Com a retomada das negociações Irã-Rússia, fica mais difícil a imposição de sanções.
Mas os EUA vêem uma manobra iraniana para ganhar tempo e levar seu programa de armas atômicas a um estágio irreversível. Já estariam escolhendo alvos para um possível bombardeio limitado destinado a pelo menos adiar a fabricação da bomba atômica iraniana. Este programa que viria desde 1974, do governo do xá Reza Pahlevi (1953-1979), apoiado pelos EUA, e teria sido retomado pelo aiatolá Ruhollah Khomeini em 1987, durante a Guerra Irã-Iraque (1980-88).
O governo fundamentalista iraniano está convencido de que a questão nuclear é apenas uma desculpa dos EUA para promover uma mudança de regime político, acabando com a revolução islâmica. Alguns estrategistas americanos alegam que um bombardeio limitado desmoralizaria o governo, provocando o fim do regime. O mesmo argumento foi usado na invasão do Iraque.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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