sábado, 21 de fevereiro de 2015

Governo da Síria massacra muito mais do que Estado Islâmico

Ao apresentar ontem o relatório oficial das Nações Unidas sobre as violações aos direitos humanos cometidas na guerra civil da Síria, o sociólogo brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro declarou que a milícia Estado Islâmico do Iraque e do Levante não é o maior responsável pelas atrocidades observadas no conflito, que completa quatro anos em 15 de março de 2015. Como relator especial, não acusou nenhuma parte.

Mais de 200 mil pessoas foram mortas na guerra civil da Síria. Cerca de 10 milhões foram obrigadas a fugir de suas casas e sobrevivem precariamente dentro ou fora do país em acampamentos improvisados. Durante uma nevada dias atrás, os homens adultos passaram a noite removendo a neve para evitar que as barracas desabassem.

Com sua propaganda sanguinária e ultrajante para se apresentar como o mais poderoso grupo jihadista e atrair voluntários, o Estado Islâmico encena massacres e execuções espetaculares, mas os bombardeios da ditadura de Bachar Assad matam muito mais.

Militantes contra a ditadura e defensores dos direitos humanos produziram um vídeo para denunciar o governo Assad, revelou o jornal The New York Times. Numa área totalmente arrasada por bombardeios, há uma jaula cheia de crianças. Em primeiro plano, uma tocha entra em cena.

A mensagem: enquanto o mundo fica indignado com os massacres inaceitáveis do Estado Islâmico, o governo sírio ganha carta branca para continuar massacrando seu próprio povo.

"Desculpem ter chegado até este ponto, de usar crianças", lamentou Bara Abdulrahman, que usa nome de guerra. "Mas é a realidade. Nossas crianças estão sendo mortas a cada momento, a cada dia, debaixo de montes de escombros."

Depois de quase quatro anos de guerra, Assad sobrevive. A Rússia sempre o apoiou e agora Israel, os EUA e a Europa o consideram uma ameaça menor do que o Estado Islâmico.

Mais autoconfiante, o ditador deu entrevistas à mídia ocidental, reafirmando seu discurso antiterrorista como se a guerra civil síria fosse apenas mais um capítulo da guerra contra o terrorismo de grupos extremistas muçulmanos.

Nenhum comentário: