Defensora irredutível do protecionismo agrícola, a França lidera um grupo de 13 países da União Europeia contrários à tentativa da Comissão Europeia, órgão executivo do bloco, de retomar as negociações de liberalização comercial com o Mercosul, revela o jornal britânico Financial Times.
A comissão pretendia fazer neste mês uma nova proposta de abertura de mercado para destravar as negociações, que se arrastam desde 1999.
Os países contrários acusam Bruxelas de fazer ofertas sobre cotas e tarifas sem um cálculo preciso sobre o impacto das exportações das grandes potências agrícolas da América do Sul, especialmente o Brasil e a Argentina. Além da França, a Irlanda e a Polônia se opõem tenazmente a um acordo.
O Mercado Comum do Sul, formado por Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela, é um dos dez maiores parceiros comerciais da UE, num total de 93 bilhões de euros, à frente de países como a Coreia do Sul e a Índia.
"Taticamente, não é do interesse da UE fazer neste estágio propostas correspondentes aos interesses de nossos parceiros", declararam em nota os países contrários.
Nesta semana, o presidente francês, François Hollande, manifestou oposição às negociações com os Estados Unidos para criar a Parceria Transatlântica de Comércio e Investimentos alegando prejuízos à agricultura: "Neste estágio, a França diz não", declarou Hollande.
Com a eleição presidencial marcada para 23 de abril e 7 de maio de 2017, a França deve ser contra qualquer acordo de liberalização comercial. Seus agricultores enfrentam séria crise e são tradicionais eleitores da direita. Hollande é socialista.
A Espanha, que tem grandes investimentos na região, é o país mais interessado num acordo com o Mercosul, protestou: "A Espanha considera que seria um grande erro da França impedir a troca de ofertas", reagiu o ministro do Comércio, José Manuel García Margallo.
A UE tem saldo positivo com o Mercosul no comércio de produtos industriais. Exporta 47 bilhões de euros por ano e importa 23 bilhões. No setor agrícola, o desequilíbrio é muito maior e favorece o Mercosul, que exporta 21 bilhões de euros e importa apenas 2 bilhões.
No mês passado, a comissária de Comércio da UE, Cecilia Malmström, defendeu a troca de ofertas como mera formalidade: "Estou feliz que podemos avança nestas longas negociações. Ambos os lados estão fortemente comprometidos, então eu confio que a troca de ofertas vai nos permitir retomar com sucesso as negociações rumo a um acordo amplo e ambicioso."
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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