Em carta aberta, o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, ex-ministro do Exterior do Uruguai, repudiou ontem as acusações do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, de que seria um agente secreto dos Estados Unidos e um traidor.
"Não sou agente da CIA [Agência Central de Inteligência dos EUA]. E tua mentira, ainda que repetida mil vezes, não será verdade. De todas as formas, convém esclarecer, ainda que seja negar o absurdo", disparou Almagro.
O ex-chanceler uruguaio foi além: "Não sou traidor. Não sou traidor nem de ideias, nem de princípios e isto implica que não o sou de minha gente, os que se sentem representados pelos princípios da liberdade, honestidade, decência, probidade pública (sim, os que sobem e descem do poder pobres), democracia e direitos humanos. Mas tu, sim, és, presidente, trais teu povo e tua suposta ideologia com diatribes sem conteúdo, és traidor da ética na política com tuas mentiras e trais o princípio mais sagrado da política, que é se submeter ao escrutínio de teu povo."
Maduro tenta impedir a oposição venezuelana de convocar um referendo para revogar seu mandato, como prevê a Constituição da República Bolivarista da Venezuela.
"Deves devolver a riqueza de quem governa contigo o teu país, porque a mesma pertence ao povo, deves devolver a justiça ao povo em toda a dimensão da palavra (inclusive encontrar os verdadeiros assassinos dos 43 e nos os que manténs presos por suas ideias, ainda que não sejam as tuas nem as minhas). Deves devolver os presos políticos a suas famílias", desafiou Almagro.
"Deves devolver à Assembleia Nacional seu poder legítimo, porque o mesmo emana do povo, deves devolver ao povo a decisão sobre seu futuro. Nunca poderás devolver a vida às crianças mortas em hospitais por não ter medicamentos, nunca poderás desfazer tanto sofrimento, tanta intimidação, tanta miséria, tando desassossego e angústia", fulminou Almagro.
"Que ninguém cometa o desatino de dar um golpe de Estado contra ti, mas que tu tampouco o dês. É teu dever. Tu tens um imperativo de decência pública de realizar o referendo revogatório neste 2016 porque quanto a política está polarizada a decisão deve voltar ao povo, é isso o que diz tua Constituição. Nega a consulta ao povo, negar-lhe a possibilidade de decidir te transforma num ditadorzinho a mais como tantos que teve o continente.
"Se te incomodam a OEA e meu trabalho", concluiu o secretário-geral da OEA, "lamento te informar que não me inclino nem me intimido."
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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